Golpes nos estrangeiros, a prática ligada à impunidade, ética e moral
Crime se tornou comum nas cidades turísticas do Brasil
Foto: Freepik
Recentemente, um triste caso movimentou as notícias no país e internacionalmente. Dois turistas britânicos foram dopados e vítimas do golpe "Boa noite Cinderela" em uma viagem ao Rio de Janeiro. Um forte vídeo circulou nas redes sociais, onde uma das vítimas estava cambaleando na praia de Ipanema, tentando se manter são, mas não conseguindo.
Esse caso é só um de muitos exemplos de situações oportunistas, onde muitas pessoas querem sempre "estar por cima" daqueles desavisados, até em situações mais simples, visando se dar melhor que o outro, onde uma água de R$ 4 passa a ser R$ 20, seguida com a famosa frase: "para gringo é mais caro". Atitudes como essa são motivadas por duas situações: o famoso "jeitinho brasileiro" e principalmente o poder da impunidade aos praticantes, atrapalhando não somente o turismo brasileiro, como a visão internacional do país.
IMPUNIDADE, ÉTICA E MORAL
O código Penal traz, com a sessão 2° do artigo 33, que existe uma punição com detenção de um a três anos, além de 100 a 300 dias-multa, para aquele que tiver uma conduta de induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga. Mesmo assim, a justiça poucas vezes se faz presente, já que em muitos casos, quando há uma pessoa culpada sendo pega pela lei, quase sempre é somente fichada e liberada.
No próprio caso dos britânicos, uma das garotas de programas envolvidas, identificada como Raiane, tem VINTE passagens na Polícia por diversos crimes, como associação criminosa, roubo e o próprio golpe do "Boa noite Cinderela". Em 2022 mesmo, a mesma foi condenada a seis anos de regime fechado, porém foi liberada pela Justiça somente seis meses depois, pela justificativa de falta de provas. E esse é um ponto a ser debatido, aliás, todo ser humano é inocente até que prove ao contrário, porém, em golpes como esse, não há prova a não ser pego em flagrante. Logo, os praticantes se sentem "impunes" à Justiça, já que sabem que sua acusação muito possivelmente será baseada no "achismo", já que a prática é um "golpe rápido" - onde somente se coloca uma substância na bebida da vítima - não tendo provas para condená-lo.
Agora, em relação a superfaturar o valor de um produto para um estrangeiro, não existe crime nenhum, mas um grande dilema moral e ético, já que mexe com a honestidade e desonestidade de um cidadão. Essas situações se encaixam muito bem com a banalidade do mal, termo criado pela filósofa Hannah Arendt, onde, segundo ela, "o problema com o mal é que ele se torna banal quando deixamos de pensar e de julgar moralmente". Logo, um problema bastante sério e claro de desonestidade se torna "normal" e motivo de piada, banalizado pela mudança da bússola moral e ética dentro da sociedade brasileira. Óbvio, é desrespeitoso generalizar a falta de senso crítico em toda a sociedade, mas é possível encontrar essa mudança no cotidiano, como, por exemplo, "dar uma roubadinha" no trânsito, mas nesse caso, sendo apelidada de "jeitinho brasileiro".
Veja exemplos da banalidade e do jeitinho brasileiro:
Outro exemplo:
VISÃO INTERNACIONAL
Em consequência dos atos de golpistas, a imagem brasileira não passaria impune para visitantes estrangeiros e até mesmo a mídia internacional. Os britânicos, em entrevista às redes nacionais, disseram que o motivo da viagem era para comemorar a formatura de um da dupla, mas tudo se arruinou após o ato covarde sofrido, apontando que tirarão um tempo do Brasil. “Foram 10 dias lindos antes disso. Fomos ao Cristo, à Praia de Ipanema. Agora, minha família está preocupada comigo. Talvez eu volte, se for a situação certa e com as pessoas certas. Mas, por enquanto, já é o suficiente de Brasil”.
Justamente sua última frase é o ponto central, "já é o suficiente de Brasil" escancara que esses problemas afastam os turistas de aproveitar o país e movimentar o turismo nacional, além de levar uma impressão bastante ruim ao contar para familiares, amigos, se tornando exemplo de insegurança no país.
Nessa linha de raciocínio, vale trazer o ponto da imaginação pública que o Brasil tem nos estrangeiros. É de conhecimento geral que a Disney criou um personagem baseado no Brasil, chamado Zé Carioca, um papagaio com jogo de cintura e bem carismático. Porém, o que pouco se percebe é como o personagem é retratado, de maneira preguiçosa, malandra e cheia de falácias, saindo "por cima" de todas as situações, além dos "estereótipos comuns", como apaixonado por Samba, Futebol e mulheres. A “malandragem” e o jeitinho brasileiro são vistos como charme, mas também como preguiça ou falta de disciplina.
Logo, o personagem é uma grande representação de como os americanos enxergaram nosso povo na época da "Política da Boa Vizinhança" - quando ele foi criado -, um povo caloroso e festeiro, mas que foge das suas responsabilidades. Já hoje em dia, segundo o próprio presidente Donald Trump, a capital do país se tornou um "ambiente de caos e perigo" - em relação à segurança pública -, apontando que a realidade do país não passa de uma "zona de guerra", por assim dizer.
COMO SE PREVENIR DE GOLPES?
Essa é uma pergunta difícil de se responder, já que qualquer movimento, querendo ou não, pode ser potencialmente um golpe, logo, é necessário sempre ficar atento aos lugares e pessoas ao seu redor, principalmente em um país estrangeiro.
Em relação aos problemas financeiros e de compras, é necessário pesquisar os preços antes, em diversos lugares, para acabar se baseando e entender qual a faixa de valor real do local, além de pesquisar na internet para se atentar a relatos de antigas vítimas. Já nas bebidas batizadas, vulgo "boa noite Cinderela", é de extrema importância se cercar de pessoas conhecidas, não deixar a bebida longe de seu campo de visão ou na mão de um desconhecido e principalmente, pesquisar os locais mais seguros para ir.
Em resumo: a prevenção depende de informação + cautela + companhia. Muitos golpes se aproveitam da vulnerabilidade do turista, que não conhece preços, costumes locais e nem sempre está em ambiente seguro.
É SOMENTE UM PROBLEMA BRASILEIRO?
Logo, fica o questionamento: será realmente que esses problemas acontecem somente no Brasil? E a simples resposta é não, é uma problemática enraizada na cultura humana que precisa ser urgentemente disseminada, mudando a perspectiva de uma sociedade na totalidade, onde ao invés de querer se aproveitar do outro, começar a aproveitar com o semelhante.