Do ouro ao veneno: o destino perigoso do lixo eletrônico no Brasil
País recicla apenas 3% dos resíduos eletrônicos gerados, apesar de legislação que prevê logística reversa
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Celulares antigos esquecidos em gavetas, televisores e computadores quebrados fazem parte da enorme quantidade de lixo eletrônico produzida diariamente no Brasil e no mundo. O destino incorreto desses materiais, muitas vezes descartados no lixo comum, representa uma ameaça ao meio ambiente e à saúde pública, já que contêm substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio e cádmio. Apesar de avanços recentes, o país ainda recicla apenas uma pequena fração do que descarta.
O Brasil ocupa hoje a quinta posição entre os países que mais geram lixo eletrônico no mundo, segundo dados da ONU e de pesquisas nacionais. Estima-se que o país produza entre 2 e 2,4 milhões de toneladas desse tipo de resíduo por ano, mas apenas cerca de 3% têm destinação correta para reciclagem ou reaproveitamento.
Esse cenário acende um alerta sobre os riscos ambientais e de saúde pública. Além de liberar substâncias tóxicas no solo e na água, o descarte inadequado desperdiça materiais valiosos que poderiam ser reinseridos na cadeia produtiva.
Sancionada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabeleceu diretrizes para o gerenciamento do lixo no Brasil, incluindo a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e consumidores. No caso dos resíduos eletrônicos, a lei prevê a implantação da logística reversa, mecanismo que obriga fabricantes e comerciantes a estruturarem sistemas de coleta e destinação adequada. No entanto, apesar dos avanços legais, a prática ainda é limitada: o Brasil segue como o quinto maior produtor de lixo eletrônico do mundo e apenas 3% desse volume tem descarte correto, evidenciando a distância entre legislação e aplicação efetiva.
Especialistas afirmam que o lixo eletrônico possui valor de mercado, já que metais preciosos como ouro, prata e cobre podem ser recuperados e reaproveitados. No entanto, a ausência de infraestrutura e incentivos ainda dificulta a consolidação de uma economia circular.
No Brasil, empresas como a Green Eletron e programas de grandes fabricantes, como Samsung, Apple e Dell, mantêm pontos de coleta em lojas e centros autorizados. A orientação é nunca jogar eletrônicos no lixo comum, mas procurar locais credenciados para o descarte.
Enquanto governos, empresas e sociedade civil não avançarem juntos, toneladas de lixo eletrônico continuarão a se acumular em casas e aterros pelo país. O desafio do Brasil é transformar um problema em oportunidade, reduzindo danos ao planeta e gerando valor a partir do que hoje é visto apenas como descarte.