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Chá nem sempre é remédio: quando a medicina alternativa vira risco

Chá nem sempre é remédio: quando a medicina alternativa vira risco

Especialistas alertam para os perigos do uso indiscriminado de plantas medicinais e chás sem orientação médica

| Autor: Bruno Oliveira

Foto: Ilustrativa / Pixarbay

O uso de chás e plantas medicinais para tratar doenças é um costume antigo e profundamente enraizado na cultura popular brasileira. Entretanto, o que muitos desconhecem é que “natural” não é sinônimo de “seguro”. Diversas ervas contêm substâncias tóxicas que, em doses elevadas, mal preparadas ou utilizadas por pessoas vulneráveis, como gestantes, crianças e portadores de doenças crônicas, podem causar desde enjoo e lesões no fígado até aborto e morte.

Profissionais de saúde e estudos científicos alertam para o risco da automedicação com plantas, sobretudo quando há confusão entre espécies ou ausência de controle sobre a origem e a dosagem dos produtos.

Riscos ao fígado e à saúde

Em uma publicação recente nas redes sociais, o hepatologista Dr. Raymundo Paraná chamou a atenção para o uso indiscriminado de chás e ervas que podem afetar diretamente o fígado. Segundo ele, diversas plantas amplamente comercializadas e consideradas “inofensivas” estão associadas a casos graves de lesão hepática.

Entre elas, o médico cita kava-kava, valeriana, cavalinha, maca peruana, cúrcuma, espinheira-santa, confrei, chá verde em cápsula, chapéu-de-couro e até a popular erva-de-são-joão.

“Essas ervas têm sido associadas a lesões hepáticas graves. Elas podem causar inflamação e danos aos tecidos do fígado, levando a condições como hepatite tóxica”, destacou o especialista.

O médico também reforça que muitos desses produtos naturais interagem com medicamentos convencionais, potencializando efeitos adversos e agravando o quadro de saúde.

“Sempre consulte um profissional de saúde com RQE (Registro de Especialidade) antes de iniciar o uso de qualquer chá ou erva, especialmente se você já tem problemas de saúde ou está em uso de outros medicamentos”, conclui Paraná.

Três plantas populares que exigem atenção

Algumas plantas, muito conhecidas no dia a dia, também apresentam riscos significativos quando utilizadas de forma inadequada:

  • Coentro-do-mato (Eryngium foetidum)

Uso popular: chá e xaropes para gripe, dores de estômago e problemas gastrointestinais.

Risco descrito: estudos indicam que o consumo em doses elevadas e por longos períodos pode causar alterações renais e efeitos tóxicos.

  • Arruda (Ruta graveolens)

Uso popular: usada em chás para aliviar dores e cólicas; também conhecida por seu uso em práticas populares como erva “abortiva”.

Risco descrito: pode causar náuseas, vômitos, lesões hepáticas e renais, distúrbios neurológicos e aborto. É contraindicada durante a gravidez e deve ser usada apenas sob orientação médica.

  • Mamona (Ricinus communis)

Uso popular: partes da planta e o óleo são usados em remédios tradicionais e aplicações industriais.

Risco descrito: as sementes contêm ricina, uma toxina altamente perigosa. A ingestão pode causar vômitos, diarreia com sangue, falência de órgãos e até morte. Jamais se deve preparar chás com sementes de mamona.

Atenção e orientação profissional

Antes de adotar qualquer chá, planta ou suplemento natural, é essencial consultar um profissional de saúde qualificado. O uso indiscriminado de ervas pode agravar doenças existentes, causar reações tóxicas e comprometer órgãos vitais como o fígado e os rins.

O cuidado com o corpo deve vir acompanhado de informação. Afinal, o que é natural pode curar — mas também pode causar sérios danos quando usado sem orientação.

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