Notícias
Exclusivas
Apostas online ganham força entre estudantes da UFBA

Apostas online ganham força entre estudantes da UFBA

Hábito que cresce cada vez mais no Brasil também se tornou comum no meio universitário

| Autor: Antonio Marzaro

Foto: Antonio Marzaro/Varela Net

Um levantamento feito com estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) apontou que o hábito de apostar online tem se tornado comum entre universitários. Dos 35 alunos que responderam ao formulário “Você faz apostas?”, 20 afirmaram já ter apostado, sendo que 75% desses relataram utilizar plataformas digitais, como sites de apostas esportivas ou cassinos virtuais. A maioria disse apostar ocasionalmente e gastar até R$50 por mês.

Entre os 20 apostadores, 16 gastam até R$50 mensais, e apenas três superam esse valor. Quase metade (9 alunos) afirmou já ter tido prejuízo, enquanto apenas 4 conseguiram lucro. O restante não soube ou preferiu não responder. Nenhum deles declarou ter deixado de pagar contas por conta do hábito, mas os dados sugerem um padrão de perdas pequenas e frequentes, que acabam naturalizadas no cotidiano.

As motivações variam: muitos dizem apostar por diversão, passatempo ou busca de adrenalina. Três estudantes afirmaram que as apostas fazem parte da rotina e outros três já tentaram parar, mas tiveram dificuldades. Doze relataram conhecer alguém próximo que já enfrentou problemas com apostas, indicando que os impactos vão além do individual e alcançam o convívio social.
 

Segundo o psicólogo Caio Matos, especialista em Orientação Profissional de Carreiras (OPC), os impactos vão além do financeiro. “Temos impactos na ansiedade, estresse e depressão de estudantes que possuem problemas com apostas”, explica. Ele destaca que essas questões podem comprometer o planejamento de carreira: “A ausência de dinheiro leva a escolhas mais restritas e impede que o estudante alinhe suas decisões com seus planos de futuro”.

Matos ressalta que a situação é ainda mais crítica entre jovens em vulnerabilidade social, pois as promessas de ganho rápido são especialmente sedutoras para quem já enfrenta restrições financeiras. Quando há endividamento, os efeitos tendem a piorar: aumento da ansiedade, sintomas depressivos, queda de desempenho acadêmico e redução na participação em atividades que contribuem para a formação, como cursos e eventos.

Em situações mais graves, o comportamento pode evoluir para dependência. “Alguns indicativos são perda de controle, comportamento compulsivo, prejuízos pessoais, sociais, financeiros e psicológicos”, afirma Matos. Casos assim podem gerar insônia, queda no desempenho e impactos fisiológicos significativos. A insegurança profissional também entra em cena: “Pessoas endividadas e em busca constante de dinheiro podem ser mal vistas no ambiente de trabalho, o que gera isolamento e estigmatização”.

Para estudantes que apostam com frequência, Matos recomenda atenção a certos sinais: “Você tenta recuperar perdas? Já deixou de fazer algo importante para acompanhar um resultado? Sabe quanto gastou no último mês?”. Essas reflexões ajudam a identificar se o comportamento está gerando mais prejuízos do que benefícios.

A maioria dos estudantes consultados (34 dos 35) defende uma regulamentação mais rígida das plataformas de apostas no Brasil. O posicionamento acompanha a preocupação nacional: segundo o Ministério da Fazenda, o setor movimentou cerca de R$100 bilhões apenas em 2023. No mesmo ano, o Ministério da Saúde incluiu o jogo compulsivo entre as condições tratadas na atenção básica do SUS.

Na UFBA, já existem ações voltadas à saúde mental, mas Matos sugere que a universidade avance: “Seria interessante criar um ambulatório especializado em dependência de apostas. Isso exigiria estrutura, preparo técnico e pesquisa para garantir um atendimento realmente eficaz aos estudantes que enfrentam esse problema”.

Tags

Notícias Relacionadas