Com Bolsonaro preso, quais serão os rumos da direita para 2026?
O ex-presidente foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pelo STF no julgamento da trama golpista

Ex-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliar, enquanto aguardava o julgamento pela trama golpista |Foto: Sérgio Lima/AFP
Mesmo declarado inelegível desde junho de 2023, Jair Bolsonaro (PL) ainda tinha grande aclamação popular e política como possível candidato à presidência em 2026. Contudo, após quase 10 dias de julgamento, o ex-presidente foi condenado pelos ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado pelos cinco crimes que envolvem a tentativa de golpe de estado.
A partir das acusações de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, além de deterioração de patrimônio tombado, quatros dos cinco ministros do STF julgaram Jair Bolsonaro como culpado. Somente Luiz Fux votou pela absolvição do ex-presidente por todas as acusações.
Além dele, todos os outros sete réus do núcleo da trama golpista também foram condenados.
- Alexandre Ramagem: ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); 16 anos, um mês e 15 dias em regime fechado
- Almir Garnier: ex-comandante da Marinha; 24 anos em regime fechado
- Anderson Torres: ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal; 24 anos em regime fechado
- Augusto Heleno: ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); 18 anos e 4 meses em regime fechado
- Paulo Sérgio Nogueira: ex-ministro da Defesa; 19 anos em regime fechado
- Walter Braga Netto: ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa de 2022; 26 anos em regime fechado
- Mauro Cid: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; dois anos de prisão em regime aberto, por causa do acordo de colaboração premiada.
General Mauro Cid. | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Dúvida para a direita em 2026
Em um momento de extrema polarização política no Brasil, a condenação de Bolsonaro parece abrir caminho para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal nome da esquerda no país, consiga uma reeleição tranquila no comando do poder executivo federal. Neste sentido, quem poderia assumir o bastão da direita nas eleições presidenciais de 2026 para competir contra Lula?
No dia 19 de agosto, um jantar entre lideranças da direita e centro-direita na casa do presidente da federação entre União Brasil e PP, Antonio de Rueda, discutiu possíveis planos de estruturação para a corrida presidencial. No encontro, estavam presentes os governadores de 12 estados, entre eles Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado e Eduardo Leite (conheça todos mais abaixo), além dos presidentes nacionais de seis partidos: União Brasil, PP, MDB, Republicanos, PL e PSD.
O grupo debateu duas estratégias. A primeira consiste em cada um dos seis partidos lançar um nome próprio para disputar o Palácio do Planalto e depois todos apoiarem quem for ao 2º turno, provavelmente contra Lula, que já disse que tentará ser reeleito. A segunda possibilidade é a direita e a centro-direita se unirem já no 1º turno para lançar um candidato conjunto, que pode ser o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Além desses, é preciso considerar as três figuras do Clã Bolsonaro que também podem entrar na corrida presidencial: Michelle, esposa do ex-presidente, além de Eduardo e Flávio, filhos de Jair Bolsonaro.
Ainda, é preciso observar para quem irá o apoio direto de Jair Bolsonaro, o que pode ser decisivo para concentrar votos em um único candidato. Até então, o ex-presidente não se posicionou sobre qual candidato poderia ser o seu “substituto” como liderança da direita no Brasil. Neste sentido, vale conhecer de perto quem são os postulantes a este posto:
Tarcísio de Freitas
Além dos membros da família Bolsonaro, Tarcísio de Freitas é o favorito entre as lideranças da direita para tomar a frente na corrida presidencial contra Lula.
Tarcísio de Freitas. | Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP
Engenheiro de formação militar, Tarcísio foi diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), entre 2011 e 2014, além de diretor-geral do Dnit entre 2014 e 2015. Ele conquistou a confiança de Jair Bolsonaro com passagem bem sucedida pelo Ministério da Infraestrutura durante o mandato do ex-presidente, entre 2019 e 2022.
“Você será o meu candidato. Você tem a cara de São Paulo”, disse Bolsonaro ao convocar Tarcísio para disputar o governo do estado mais rico e populoso do país. A eleição de 2022 marcou a primeira candidatura de Tarcísio, que venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Para Bolsonaro, a vitória de Tarcísio representou um palanque forte no maior colégio eleitoral do país.
Romeu Zema
Quem também aparece como candidato à presidência é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), que - assim como Tarcísio - teve uma ascensão rápida na política.
Romeu Zema. | Foto: Divulgação
Empresário do ramo varejista, Zema se candidatou ao governo de Minas Gerais em 2018 e saiu vitorioso com mais de 70% dos votos no segundo turno já em sua primeira eleição, sendo o primeiro governador eleito pelo partido Novo no Brasil. Em 2022, ele conseguiu ser reeleito no primeiro turno.
“Estamos vacinados contra a receita fracassada da esquerda. O caminho da prosperidade nós já conhecemos, é apoiar a livre iniciativa e reduzir o Estado. Se foi possível fazer em Minas, é possível fazer no Brasil”, disse o governador no lançamento da sua candidatura, a segunda entre os partidos de direita neste ano.
Ronaldo Caiado
A primeira candidatura da direita veio a partir de Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás.
Ronaldo Caiado. | Foto: Isac Nóbrega/PR
Produtor rural e histórico defensor do agronegócio brasileiro, Caiado começou sua trajetória política como deputado federal pelo estado de Goiás entre 1991 e 1995, apesar de já ter sido candidato para a eleição presidencial de 1989, mas sem sucesso. Ele voltou ao cargo de deputado federal em 1999, onde ficou até 2014, quando foi eleito Senador por Goiás.
Em 2018, ele conseguiu se eleger como governador do estado, repetindo o feito em 2022. Caiado foi o primeiro governador eleito e reeleito em primeiro turno da história de Goiás.
Neste ano, com um viés essencialmente bolsonarista, Caiado confirmou sua candidatura para as eleições presidenciais de 2026.
"Eu já deixei com muita clareza e reafirmo aqui minha posição que meu primeiro ato como Presidente da República vai ser promover a anistia ampla, geral e irrestrita a todos do 8 de Janeiro. E a partir dali, fazer como Juscelino Kubitscheck fez: anistiando a todos, pacificando o Brasil e sendo um grande estadista, como foi”, disse Caiado.
Ratinho Júnior
Carlos Massa Júnior, mais conhecido como Ratinho Júnior, tem grandes chances de ser o candidato lançado pelo PSD para a disputa pelo Palácio do Planalto.
Ratinho Júnior. | Foto: Divulgação/AEN
Com a influência do pai, Ratinho Júnior tornou-se deputado estadual no Paraná em 2003. Em 2006, ele concorreu como deputado federal e alcançou o cargo, o qual ocupou até 2015.
Após dois anos como Secretário de Desenvolvimento Urbano do Paraná, entre 2015 e 2017, ele entrou na disputa pelo governo do estado em 2018, quando venceu a eleição ainda no primeiro turno. O governador repetiu o feito e se reelegeu também no primeiro turno em 2022.
Depois de Tarcísio, Ratinho Júnior tem o segundo melhor desempenho contra Lula em um eventual segundo turno, como mostra a pesquisa Quaest de agosto.
Eduardo Leite
Além de Ratinho Júnior, quem aparece como possível candidato pelo PSD é Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Segundo Gilberto Kassab, presidente da sigla, “a sorte do PSD e a sorte do Brasil é que os dois serão presidentes da República porque são muito jovens e preparados para dirigir o Brasil”, disse.
Eduardo Leite. | Foto: Maurício Tonetto/Secom GOV RS
Bacharel em direito, Eduardo Leite ingressou na política aos 19 anos, quando foi eleito vereador da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde nasceu. A partir daí, ele ocupou cargos na prefeitura do município até voltar ao posto de vereador em 2008, aos 23 anos, tornando-se líder da bancada do PSDB na Câmara e presidente da Casa em 2011.
Em 2012, ele foi eleito prefeito de Pelotas, a terceira cidade mais populosa do estado, mas decidiu não se reeleger em 2016. Em 2018, aos 33 anos, Leite foi candidato ao governo do Rio Grande do Sul e transformou-se no governador eleito mais jovem do Brasil e da história do estado.
Em 2022, ele chegou a renunciar ao cargo para tentar a disputa pela presidência da República, mas sem sucesso, voltou ao pleito estadual. Crítico antigo do instituto da reeleição no Brasil, Leite disse que, como havia renunciado ao cargo, não estava disputando a eleição com a ajuda da máquina governamental. Ele acabou vencendo as eleições e é o atual governador do Rio Grande do Sul.
O Clã Bolsonaro
Família Bolsonaro. | Foto: Divulgação
Michelle:
Mesmo sem nenhuma experiência política, a ex-primeira-dama é apontada como o principal nome do clã bolsonarista, além de ser uma das favoritas a disputar a eleição contra o presidente Lula. Segundo a pesquisa da Quaest, divulgada no mês de agosto, somente Tarcísio e Eduardo Leite aparecem com mais chances que Michelle na corrida presidencial entre os nomes da direita.
Inicialmente, o ex-presidente não via com bons olhos a ideia de lançá-la à Presidência, entendendo que a ex-primeira-dama poderia ser um bom nome para ocupar o Senado Federal. Contudo, interlocutores de Bolsonaro afirmam que o presidente, ao final, optará por Michelle por conta da confiança que tem na ex-primeira-dama e pelo receio de perder a liderança da direita para Tarcísio.
Por sua vez, Michelle afirmou que a candidatura depende dos “planos de Deus”: “Se for da vontade d´Ele, todas as coisas contribuirão para essa eventual missão, inclusive um pedido do Jair. Se não for, não acontecerá”.
Flávio:
Atual senador do Rio de Janeiro pelo PL, o filho “01” de Bolsonaro começou na política aos 22 anos, quando se elegeu o deputado estadual mais jovem da legislatura 2003/2007, permanecendo no cargo durante quatro mandatos. Ele ainda concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016, mas não teve êxito.
Em 2018, ele lançou a candidatura para o Senado do Rio de Janeiro na Convenção Nacional do PSL, partido que ele tinha filiação à época, juntamente com o seu pai, que lançou a candidatura à presidência da República. O resultado das urnas consagrou Flávio Bolsonaro como o senador mais votado na história do Rio de Janeiro, alcançando quatro milhões de votos, segundo dados do TSE.
Apesar da prisão do pai, Flávio não se vê com um candidato para 2026 e ainda acredita que o ex-presidente consiga voltar a disputar a eleição.
“O jogo não acabou, o jogo está só começando. Então, não queiram colocar Bolsonaro como carta fora do baralho, porque ele está mais vivo do que nunca. Essa perseguição que fazem contra Bolsonaro só o fortalece, e a população se sensibiliza com quem é perseguido injustamente”, disse Flávio.
Eduardo:
Ao contrário dele, Eduardo Bolsonaro - o filho “03” - já afirmou que está disposto a entrar na disputa pelo Palácio do Planalto. Segundo o parlamentar, há duas condições para sair candidato: ter o apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e ‘anular’ o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
“Tenho que ter sucesso nessa questão de resgate da normalidade democrática no Brasil e no isolamento do Alexandre de Moraes, na anistia, em todas essas pautas. Porque isso daria tranquilidade para eu voltar ao Brasil sem ser preso. Se, nesse cenário, Jair Bolsonaro quiser me apoiar, eu sairia candidato a presidente da República”, explicou.
Formado em Direito, Eduardo ingressou na política em 2014, quando foi eleito deputado federal em 2014, pelo PSC, com pouco mais de 82 mil votos. Em 2018, mesmo ano em que seu pai concorreu pela presidência, ele venceu como o deputado federal mais votado da história do Brasil, com 1,84 milhão de votos, filiado ao PSL. Em 2022, ele conseguiu mais uma reeleição, desta vez pelo PL, com 741 mil votos.
O deputado é investigado pelo STF por suspeita de atuar nos Estados Unidos contra o Poder Judiciário do Brasil. No pleito pela anistia a Jair Bolsonaro, Eduardo foi um dos principais incentivadores para que Donald Trump impusesse sanções e fizesse ameaças contra o Brasil.
O prodígio do conservadorismo
Apesar de não ter idade para concorrer à presidência da República, que requisita uma idade mínima de 35 anos para que seja lançada uma candidatura, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), de 29 anos, surgiu nos últimos nomes como um dos principais nomes da direita no Brasil, principalmente por angariar o apoio da população jovem por meio de uma atuação intensa nas redes sociais.
Nikolas Ferreira. | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Nikolas ingressou na política em 2020, quando foi eleito vereador de Belo Horizonte pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) com 29.388 votos, alcançando a segunda maior votação para o cargo na história da cidade. Contudo, ele não chegou a completar o mandato, já que foi lançado como deputado federal em 2022. Nikolas foi eleito com impressionantes 1,49 milhão de votos, tornando-se o deputado mais votado do Brasil em 2022 e o mais votado da história de Minas Gerais.
Neste sentido, chegou a ser discutida na Câmara dos Deputados uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para reduzir a idade mínima para concorrer à presidência de 35 para 30 anos. O projeto foi de autoria do deputado Eros Biondini (PL-MG). Com a mudança, Nikolas poderia concorrer já no próximo ano, visto que já teria completado 30 anos no período das eleições.
Apesar da tentativa, a mudança não deve acontecer para 2026, o que tira Nikolas da possibilidade de entrar na disputa. Contudo, o parlamentar mineiro já afirmou que tem como ambição alcançar a presidência da República no futuro.
“É claro que acredito que é um sonho, assim como todo mundo tem um sonho na sua carreira de chegar no mais alto posto. Acredito que o sonho do Neymar é ganhar uma Copa do Mundo, porque é a melhor maneira de servir ao seu país. Na política, é um sonho servir ao meu país da melhor forma possível, no melhor cargo possível”, disse Nikolas.
“Se até Dilma Rousseff [foi presidente], por que também não posso, algum dia, me candidatar à Presidência da República deste país?”, completou o deputado.