Sportwashing: Como a Arábia Saudita utiliza o esporte para limpar sua imagem?
País Saudita se tornou exemplo de mudança de sua imagem através do esporte
Foto: Reprodução / Redes Sociais
A Arábia Saudita se tornou exemplo de grandeza e poder ao demonstrar, através da criação de grandes eventos, como movimentar milhares de pessoas. Em um país dominado pelo deserto e contando com uma cultura única, o Reino Saudita conquistou visibilidade em todo o mundo e se tornou o centro de importantes momentos esportivos da história da sociedade. Apelidado como "Sortwashing", o país árabe utiliza uma manobra através do esporte para "reformar" uma imagem conhecida pelos problemas humanitários que envolve a cultura e o crescimento da região. Por conta disso, é necessário entender a raiz dos problemas que querem ser esquecidos e como o esporte tem seu fator mais do que importante nessa etapa.
OS DIREITOS HUMANOS NA ARÁBIA SAUDITA
É de conhecimento público há bastante tempo que a região saudita, do mundo árabe, tem uma cultura bastante questionada no lado ocidental, por acabar desrespeitando direitos humanos básicos. Um dos principais é a falta dos direitos das mulheres e a discriminação de gênero ainda presente. O sexo feminino vive sob diferentes regras que afetam sua liberdade e direito de livre arbítrio, já que só é possível viajar, trabalhar, casar, etc., dependendo da AUTORIZAÇÃO ou aprovação de um guardião masculino. Além disso, no país, quem defende os direitos das vítimas em relação à falta deles é preso e perseguido, caso questione os "métodos tradicionais".
Outro ponto bastante comum é a liberdade de expressão em relação às críticas ao governo e também à religião. A medida se aplica a qualquer pessoa que esteja presente no país, abordando jornalistas, acadêmicos ou blogueiros / criadores de conteúdos estrangeiros e até mesmo imigrantes. O problema da falta de mudança na cultura, além de violar os próprios direitos humanos, também prejudica na evolução do país de forma "orgânica", mas que vem sendo superada através da injeção de capital no movimento que mais move pessoas e dinheiro no mundo, o esporte.
O SPORTWASHING
"Sportwashing" ou em tradução livre "lavagem do esporte", é um termo utilizado para movimentos de governos, empresas ou indivíduos com uma reputação negativa que utilizam o mundo esportivo como uma ferramenta de melhorar sua imagem pública.
Devido aos problemas públicos, o Reino Saudita viu o futebol como uma grande opção de manobra para buscar a melhora em como o público enxerga e entende o país. Devido a isso, e pela alta quantidade de verba financeira, o governo decidiu investir, em peso, no campeonato nacional, comprando diversos clubes como o Al-Hilal, Al-Nassr, Al-Ittihad e o até o Newcastle United, da Inglaterra, para se tornarem as principais potências, tanto nacionais quanto internacionais.
Através do Public Investment Fund (PIF), o fundo soberano da Arábia Saudita, o governo deu uma grande injeção de dinheiro para seus clubes buscarem peças extremamente renomadas no futebol moderno e elevarem a qualidade da liga, buscando patrocinadores e espectadores. Nomes emblemáticos como Karim Benzema, que era o atual Bola de Ouro na época de sua transferência, e o ídolo de uma geração, Cristiano Ronaldo, deixaram o mercado europeu e se juntaram a uma SPL ainda em desenvolvimento.
Com isso, quando se fala hoje em dia de "Arábia Saudita", o pensamento em relação aos seus problemas é substituído por esporte, grandeza e grandes eventos. Para acrescentar, não é somente o futebol que ganha protagonismo no deserto e sim diversos outros momentos memoráveis, como as lutas de UFC, corridas da Fórmula 1 e até entretenimento como o Wrestling com a WWE.
A COPA DO MUNDO DE 2034
Por fim, mesmo buscando meios para ressignificar o que o país representa, polêmicas ainda existem e são fortes. Se tornando a única candidata para sediar a Copa do Mundo no ano de 2034, especialistas, jornalistas e fãs apontaram uma certa "manipulação" e um esquema imoral da Fifa - órgão principal que comanda o futebol - para que o torneio acontecesse no país. De acordo com informações, algumas regras de rotação continental foram alteradas ou também aplicadas de modo que outros países interessados ficassem prejudicados e inviabilizados a concorrer. Outro ponto é sobre o processo de avaliação de segurança e respeito dos direitos humanos, que a entidade faz em todas as potenciais sedes, para ver se normas éticas estão sendo respeitadas.
Especialistas apontam que a Fifa "manipulou" o processo burocrático para, na votação, existir somente a Arábia Saudita como opção quase certa, minimizando a concorrência, como com a exclusão de três continentes, América com o Uruguai e Argentina, Europa com Portugal e Espanha e na África, com Marrocos. Essa "exclusão" automática dos continentes ocorre devido à escolha da entidade de colocar três sedes em três continentes, para a Copa de 2030, o que automaticamente corta o possível "segundo mandato" de qualquer país pertencente a essa localidade, devido à regra oficial. A tomada de decisão da entidade acabou sendo mais escolhida devido a interesses com base políticos, financeiros ou de imagem, esquecendo pontos importantes revelados pelos relatórios.
O ponto dos relatórios muito tem a ver com a utilização e a investigação para serem feitos. A Fifa está sendo apontada de utilizar relatórios "independentes" os quais não são realmente independentes, que falharam em considerar plenamente problemas mais críticos. Os críticos internacionais apontaram que o estudo encomendado ao escritório AS&H Clifford Chance, que deveria investigar o risco para os direitos humanos, foi feito baseado no "whitewash" (lavagem de reputação), por não incluir de forma adequada vários abusos conhecidos, por limitar escopo, ou não detalhar como seriam implementadas reformas. Com isso, o relatório de avaliação de risco da Fifa deu à Arábia Saudita uma classificação de risco "médio", mesmo com evidências de ser maior do que apontado.
Logo, a Arábia Saudita se tornou um grande predador em relação a atrair importantes eventos esportivos, buscando mudar sua imagem, mesmo que esse movimento utilize meios questionáveis, através de sua influência e de seu dinheiro.