Por que usar Inteligência Artificial como médico ou psicólogo pode ser perigoso?
Ferramentas de IA estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia, mas se usadas erradamente, podem colocar a saúde em risco
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A Inteligência Artificial vem ganhando cada vez mais espaço em diversos setores do nosso dia a dia, desde o atendimento bancário até a produção de conteúdos. Porém, um uso que vem preocupando especialistas é a consulta a essas ferramentas para questões de saúde física e mental.
Com a popularização de assistentes virtuais, muitos usuários passaram a buscar diagnósticos médicos e conselhos psicológicos de forma mais rápida com o uso da IA, sem recorrer a profissionais de “verdade” ou qualificados. O problema é que as respostas geradas pela tecnologia não consideram o histórico clínico, fatores emocionais ou sociais do paciente, sem aquela conversa “olho no olho”, pontos fundamentais para qualquer avaliação séria.
Para o psicólogo Bruno Faria Soares, os perigos de se consultar por Inteligência Artificial vão desde riscos de menor impacto, como receber respostas simples, até os de maior impacto, como orientações equivocadas.
“O processo de psicoterapia é complexo e envolve muitos fatores, dentre eles uma análise técnica, profunda e apurada do contexto de cada pessoa, o que ainda não se mostrou possível através do uso das IAs. Tentar substituir o acompanhamento psicológico com o uso da Inteligência Artificial traz alguns perigos, que vão desde os riscos de menor impacto, como receber respostas simples e genéricas, até os de maior impacto, como erros de diagnóstico ou orientações equivocadas, o que pode agravar o quadro. Por outro lado, quando o processo é conduzido por um profissional capacitado, a escuta é qualificada e as intervenções são baseadas nas melhores evidências para cada caso”, disse Bruno.
Como citado pelo psicólogo acima, um dos principais perigos é a sensação de falsa segurança. Como a IA responde de forma rápida e convincente, muitas pessoas acreditam estar diante de um diagnóstico confiável, quando, na realidade, podem estar sendo induzidas a erros graves. Casos de automedicação, atraso na busca por tratamento adequado e até agravamento de quadros de saúde já foram relatados em consequência dessa prática.
Para Bruno Faria, adiar a procura por uma ajuda profissional por ter “se contentado” em uma consulta com uma IA pode fazer com que demandas que poderiam ser trabalhadas de forma mais simples se tornem mais complexas.
“Conversar com uma IA em momentos de sofrimento pode gerar um alívio imediato, e por isso, algumas pessoas adiam ou evitam buscar auxílio profissional, mas adiar o início do tratamento pode fazer com que demandas que poderiam ser trabalhadas de forma mais simples, se tornem mais complexas e levem mais tempo para serem manejadas. Em um atendimento com um psicólogo, o profissional é capaz de investigar o suficiente antes de estruturar qualquer tipo de diagnóstico ou intervenção, fazendo isso de forma individualizada e segura, buscando evitar erros de diagnóstico”, finalizou o psicólogo.
A tecnologia pode, sim, ser uma aliada, ela é útil para tirar dúvidas básicas, lembrar horários de remédios ou ajudar na organização de consultas. Mas, quando o assunto é diagnóstico ou tratamento, o recado dos especialistas é claro: somente profissionais de saúde têm a formação necessária para avaliar cada caso de maneira responsável.
No fim das contas, a Inteligência Artificial é uma ferramenta poderosa, mas que deve ser usada com limites. Saúde não pode e nem deve ser reduzida a dados e algoritmos, ela exige cuidado humano, conversa “olho no olho” e acompanhamento profissional.