O que explica a xenofobia que os brasileiros sofrem em Portugal?
Mesmo sendo o segundo país com mais brasileiros fora do Brasil, Portugal rejeita cada vez mais os “zucas”
Foto: Omar Ramadan/Unsplash
Depois dos Estados Unidos, que abrigam quase dois milhões de brasileiros, a segunda maior comunidade de cidadãos brasileiros fora do Brasil fica em Portugal, onde vivem pouco mais de 360 mil “zucas”. Esse termo, que surge da palavra “brasuca” e é uma antítese ao apelido “portuga”, é comumente utilizado por portugueses no sentido depreciativo contra brasileiros, que são vítimas recorrentes de ataques xenofóbicos em solo lusitano.
Um caso que gerou polêmica recentemente foi o do português João Paulo Silva Oliveira, de 56 anos, que compartilhou um vídeo em suas redes sociais em que oferece um pagamento de 500 euros a cada “cabeça de brasileiro” que fosse apresentada a ele. Ainda na gravação, o homem utiliza o termo “zuca” para se referir aos brasileiros, além de chamar o grupo de “raça maldita”. Mas de onde vem tanto ódio?
Raízes históricas
É impossível analisar a relação entre Brasil e Portugal sem levar em consideração os mais de 300 anos de colonialismo português em solo brasileiro, que moldaram a estrutura da sociedade e do povo no Brasil, além de gerar mazelas que perduram até os dias atuais. Neste sentido, a migração para outros países é a alternativa que muitos brasileiros encontram em busca de melhores condições de vida, como foi o caso de Marcos Nascimento, de 48 anos.
“A realidade do nosso Brasil hoje, infelizmente, não é uma das melhores, e a fim de conhecer uma cultura diferente e de melhores condições [de vida] surgiu a oportunidade de que eu parasse em Portugal”, conta Marcos, que viveu em Portugal de 2000 a 2003, e depois de 2018 a 2025.
Contudo, o que ele encontrou em Portugal não foi tão bom quanto esperava. Na visão de Marcos, a xenofobia dos portugueses contra os brasileiros é notória, e mesmo aqueles que não são abertamente xenofóbicos tendem a ter falas ou atitudes preconceituosas em certas situações, o que remonta à ideia que a herança colonial ainda influencia a visão de Portugal em relação às suas antigas colônias.
Existe a persistência de uma mentalidade onde a Europa, representada por Portugal, é vista como superior, e os países do sul, como o Brasil, como inferiores e não civilizados.
Durante a entrevista, Marcos também explicou como a percepção negativa dos portugueses sobre os brasileiros foi decisiva para a perpetuação de preconceitos contra o sotaque e a cultura brasileira, por exemplo, de modo que a "alegria" dos brasileiros não é bem vista em Portugal. Além disso, os portugueses citam o “jeitinho brasileiro” como forma de estereotipação, criando justificativas para a manutenção de discursos de ódio, como a ideia de que brasileiros "destroem" imóveis ou não respeitam costumes portugueses, ainda que estes sejam generalizações.
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