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Festa de Olojá: uma reafirmação das origens soteropolitanas

Festa de Olojá: uma reafirmação das origens soteropolitanas

Lei sancionada pela Prefeitura oficializa celebração em homenagem a Exu e amplia o reconhecimento das religiões de matriz africana no calendário cultural da cidade

| Autor: Antonio Marzaro

Foto: Reprodução/Redes Sociais

A Festa de Olojá passou a integrar oficialmente o calendário de festas populares de Salvador. No dia 11 de dezembro, a Prefeitura sancionou a Lei nº 9.892/2025, que reconhece institucionalmente a celebração dedicada a Exu, orixá ligado à comunicação, aos caminhos e ao movimento. A medida é vista por praticantes e devotos como um marco simbólico na valorização das raízes africanas da capital baiana.

O gancho da oficialização vai além do aspecto festivo. Para muitos, a Festa de Olojá representa uma reafirmação das origens soteropolitanas, profundamente ligadas às religiões de matriz africana. Embora a celebração já acontecesse de forma popular nos últimos anos, a sanção da lei garante visibilidade, respaldo institucional e reconhecimento público a uma prática historicamente marginalizada.

Exu, muitas vezes alvo de interpretações equivocadas, ocupa papel central nas religiões afro-brasileiras. Diferente da associação comum ao mal, ele é cultuado como orixá do movimento, da comunicação e da abertura de caminhos. “Exu festeja, ele é celebração. Não existe essa separação rígida entre sagrado e profano. Toda festa acaba unindo os dois”, explica Lara Chaves, produtora cultural e praticante de umbanda.

Segundo ela, o reconhecimento oficial da festa ajuda a combater o apagamento histórico das religiões de matriz africana. “Ter esses momentos calendarizados pela prefeitura é um passo de reconhecimento e também de normalização, para enfrentar o preconceito que ainda existe em torno das religiões de matriz africana”, afirma. Para Lara, a iniciativa não cria algo novo, mas legitima práticas que já fazem parte do cotidiano cultural da cidade.

Salvador já conta com outras festividades oficiais ligadas a orixás, muitas delas marcadas pelo sincretismo religioso. A Festa do Senhor do Bonfim, associada a Oxalá, e a Festa de Santa Bárbara, ligada a Iansã, são exemplos tradicionais. Além delas, o Dia de Iemanjá, celebrado em 2 de fevereiro, é uma das poucas festas dedicadas diretamente a um orixá, sem associação explícita a um santo católico.

Iniciada no candomblé, a enfermeira Kauanny Ribeiro, vê a Festa de Olojá como um avanço importante nesse cenário. “Exu sempre esteve nas ruas, nos terreiros e na vida das pessoas. A lei só confirma algo que já é real para quem cultua. É um gesto de respeito à nossa fé e à história da cidade”, afirma. Para ela, o reconhecimento ajuda a quebrar estigmas e amplia o diálogo com a sociedade.

Questionada sobre possíveis reações contrárias em um contexto de intolerância religiosa no país, Kauanny descarta grandes conflitos. “A festa já acontecia, a cidade já convive com o sincretismo. Não é algo que vai surgir agora, é só a formalização do que já existe”, diz. Na avaliação dela, a oficialização tende mais a educar do que a provocar tensões.

Com a sanção da Lei nº 9.892/2025, a Festa de Olojá passa a ocupar um espaço institucional que dialoga com a identidade de Salvador. Ao reconhecer Exu e sua celebração, a cidade dá mais um passo no fortalecimento da memória, da diversidade religiosa e da herança africana que moldam sua cultura e sua história.

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