De que forma a língua de sinais é essencial para aproximar a sociedade?
Libras é reconhecida no Brasil há mais de 20 anos
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A comunicação é um direito humano básico. Sem ela, o acesso à educação, à saúde, ao trabalho e até mesmo situações simples do dia a dia se tornariam desafios quase impossíveis. É nesse cenário que a Língua de Sinais se mostra essencial, muito mais que um meio de interação, ela é uma ferramenta de inclusão, cidadania e respeito.
No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida oficialmente pela Lei nº 10.436, de 2002, e regulamentada em 2005, representando uma conquista histórica para a comunidade surda. Desde então, escolas, universidades e serviços públicos passaram a ter a obrigação de oferecer intérpretes em diversas situações. Porém, na realidade, essa acessibilidade ainda não chega a todos.
Um dos principais desafios está na formação de profissionais. O número de intérpretes de Libras ainda é insuficiente diante da demanda, impactando diretamente no acesso de surdos a informações importantes. Em muitas salas de aula, por exemplo, estudantes surdos ficam à 'mercê' por não contarem com o apoio adequado. O mesmo ocorre em hospitais, órgãos públicos e até em atividades de lazer, como teatros ou cinemas.
Para o professor em literatura e cultura da UFBA, João Bispo, embora o indivíduo surdo tenha limitações sensoriais, isso não impede que ele realize atividades, e para isso, é preciso de espaços na sociedade que estejam acessíveis para a realidade da pessoa.
“Embora o indivíduo surdo tenha limitações sensoriais, no caso a audição, isso não impede que ele realize atividades, e para isso a gente precisa de espaços na sociedade que estejam acessíveis e adaptados para a realidade do indivíduo surdo, não só ele, mas também outras demandas, outras condições que as pessoas tenham. Além disso, temos a Constituição Federal, no seu artigo 5º, que garante direitos iguais para todos os cidadãos, disse João.
Além disso, o professor aponta que a língua de sinais não deve ser vista somente como uma necessidade da comunidade surda. Quando ouvintes aprenderem a se comunicar em Língua de Sinais, abrem-se caminhos para reduzir o preconceito, ampliar a empatia e construir relações sociais mais justas e igualitárias. Com isso, João deu o exemplo de crianças que têm um certo atraso na fala e não conseguem se comunicar oralmente, onde elas podem se comunicar por meio da linguagem de sinais.
“Temos casos de crianças que têm um certo atraso na fala. Não são crianças surdas, mas são crianças ouvintes que têm um atraso na fala e elas podem utilizar a língua de sinais para se comunicarem. Países como a Suécia utilizam essa estratégia na educação de crianças. Algumas crianças ouvintes não têm a resposta ideal da sua comunicação, da sua fala na idade adequada, na fase de aquisição da língua e, não podendo falar oralmente, elas conseguem se comunicar em língua de sinais quando essa matéria está presente na escola. Então é benéfico para todo mundo, tanto para os surdos, que vão poder interagir mais e melhor, quanto para os ouvintes também, que podem adotar a língua de sinais como estratégia de comunicação”, explicou o professor.
Diversas iniciativas já demonstram esse potencial transformador. Como citado acima, em algumas escolas e universidades a Libras já vem sendo incorporada ao currículo, permitindo que novos profissionais saiam preparados para interagir de forma mais inclusiva. Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. A disseminação da Libras precisa ir além da obrigatoriedade legal — ela deve ser vista como parte de um compromisso coletivo com a inclusão. Ao aprender a valorizar esse meio de comunicação, a sociedade como um todo dá um passo à frente na construção de um futuro inclusivo.
A Língua de Sinais não é apenas um meio de comunicação. É sobre garantir dignidade, igualdade e o direito de cada pessoa ser plenamente ouvida, mesmo quando a voz não vem das cordas vocais, mas sim, das mãos que falam.