A menos de um ano da Copa do Mundo, existe esperança no Hexa?
Após um ciclo de sucessivos fracassos, a Seleção tenta uma recuperação brusca antes do Mundial
Foto: @rafaelribeirorio I CBF
Até aqui, o ciclo da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 tem sido marcado por uma completa bagunça administrativa que culminou em uma eliminação precoce na Copa América de 2024 e na pior campanha da história do Brasil nas Eliminatórias, terminando na quinta colocação e com míseros 28 pontos. A partir de agora, o Brasil tem 9 meses para se preparar e ter chances de alcançar o tão sonhado hexacampeonato mundial.
Os primeiros desafios da Seleção nessa caminhada acontecem já neste mês de outubro, nos dias 10 e 14 contra Coreia do Sul e Japão, respectivamente. Os jogadores que representarão a Seleção nesses amistosos serão convocados por Carlo Ancelotti nesta quarta-feira (1), às 15h.
As dúvidas de Carleto
Sem esquema definido e com um modelo de jogo ainda em construção, o treinador italiano segue em busca dos atletas que melhor encaixam no estilo que ele espera implementar na Seleção. É possível dizer que já existem algumas unanimidades - como Alisson, Marquinhos, Casemiro, Bruno Guimarães, Vinícius Júnior e Raphinha, que frequentam a Seleção desde o último ciclo, ainda sob o comando de Tite - mas a maioria das 26 vagas para a Copa do Mundo ainda é incerta.
Foto: Rafael Ribeiro/CBF
1. Ataque
Existem alguns jogadores que estiveram na última Copa do Mundo e que, por diversos motivos, ainda não se estabeleceram ou perderam espaço durante este ciclo. Rodrygo, por exemplo, foi tido como uma figura carimbada da Seleção por quase todo o período após a Copa do Mundo, mas perdeu espaço no Real Madrid desde a última temporada a partir da chegada de novos jogadores e da vontade de atuar apenas pelo lado esquerdo do ataque, esbarrando no protagonismo de Vinícius Júnior.
Richarlison, que foi o camisa 9 e artilheiro da Seleção no Catar, é outro nome que perdeu espaço na Seleção após uma série de problemas físicos e psicológicos nos últimos anos. Nesta temporada, o atacante do Tottenham vem tendo uma maior sequência dentro de campo e retomando sua melhor forma, o que o credenciou à estar nas últimas duas convocações da Seleção. Gabriel Martinelli é outro que esteve na última Copa do Mundo, mas entre inconsistências físicas e técnicas também perderam espaço e podem ficar de fora da lista final para 2026.
Além desses, tiveram os nomes que surgiram ou ganharam destaque após a Copa do Mundo de 2022, como o jovem Estevão, revelado pelo Palmeiras e hoje no Chelsea, que tem boas chances de estar no Mundial. Além dele, Endrick foi outro jovem revelado pelo Palmeiras e que brilhou no Brasil, mas não tem tido espaço desde a última temporada no Real Madrid, ainda sob o comando de Carlo Ancelotti. Por sinal, o italiano optou por não convocar o jovem jogador nas duas Datas Fifa em que esteve à frente da Seleção Brasileira.
Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Ainda na indefinição pelo dono da camisa 9, o favorito para ocupar a posição na Copa do Mundo é João Pedro, jogador revelado pelo Fluminense e que fez carreira no futebol inglês. Convocado pela primeira vez em 2023, quando ainda estava no Brighton, JP teve um início meteórico com a camisa do Chelsea na Copa do Mundo de Clubes, chamando a atenção de Ancelotti e pintando na última convocação.
Além de Richarlison, Endrick e João Pedro, que parece garantido, ainda existem outros concorrentes a essa vaga no centro do ataque. Pedro, que esteve no Catar, não aparece nas convocações desde 2023, mas segue aparecendo nas pré-listas da Seleção.
Ainda no Brasil, o jovem Kaio Jorge, do Cruzeiro, tem sido um dos grandes destaques da temporada, sendo convocado para a seleção pela primeira vez na última Data Fifa. Outro que se destacou no Brasil e chegou à Seleção neste ciclo foi Igor Jesus, que se transferiu ao Nottingham Forest, da Inglaterra, após a disputa da Copa do Mundo de Clubes pelo Botafogo.
Também na Inglaterra, nomes como Evanilson, Rodrigo Muniz e o jovem Igor Thiago correm por fora. Matheus Cunha, por sua vez, voltou ao radar da Seleção depois de uma ótima temporada pelo Wolverhampton que o fez ser comprado pelo Manchester United. Contudo, o jogador se sente mais confortável não como um centroavante fixo, mas como um camisa 10 ou como um segundo atacante, podendo ser escalado junto aos outros concorrentes.
Nas beiradas do ataque, diversos nomes já participaram deste ciclo, mas poucos se firmaram. Savinho, que esteve bem durante grande parte do ciclo, vem oscilando tecnicamente ao ponto de não estar nas últimas duas convocações.
Quem apareceu bem na última Data Fifa foi Luiz Henrique, que foi um dos melhores em campo na vitória por 3 a 0, e parece ter passado à frente de outros atacantes nessa disputa por vaga. Além dele, Samuel Lino fez sua estreia com a Amarelinha na última Data Fifa, e é outro que está no radar.
Apesar de ter participado da Copa do Mundo em 2022, Antony teve pouquíssimo espaço neste ciclo por conta da má fase que viveu com a camisa do Manchester United. No entanto, o jogador vem se recuperando desde o início do ano, quando chegou ao Real Bétis, e pintou na primeira convocação de Ancelotti.
2. Meio-Campo
Com Bruno Guimarães e Casemiro praticamente definidos como titulares, o meio-campo do Brasil tem diversas opções para o banco de reservas ou para uma possível terceira vaga em um esquema com três meias. Quem foi titular durante grande parte desse ciclo e parece ter perdido espaço foi Gerson, que saiu do Flamengo e se transferiu para o Zenit em julho deste ano e já ficou de fora da primeira convocação desde então.
Além dele, André e João Gomes, que brilharam no Brasil por Fluminense e Flamengo, respectivamente, estão juntos atualmente no Wolverhampton. A dupla participou bastante deste ciclo, mas nenhum dos dois esteve presente nas últimas duas convocações.
Por sua vez, o meio-campista Lucas Paquetá - também titular no Catar - também teve problemas extracampo nos últimos anos, por conta das investigações de envolvimento em apostas esportivas e manipulação de resultados. Em julho deste ano, o meia foi absolvido das acusações e conseguiu retornar à Seleção já na última Data Fifa.
Foto: Reprodução
Ainda na Inglaterra, Joelinton é outro que tem aparecido nas listas da Seleção, apesar de receber críticas e questionamentos por parte dos torcedores brasileiros. O jogador esteve na convocação inicial de Ancelotti para a última Data Fifa, mas se lesionou e precisou ser cortado. Outro jogador que tem se destacado no Campeonato Inglês é o jovem Andrey Santos, revelado pelo Vasco, que hoje veste a camisa do Chelsea. Com muita margem de evolução, o jogador de 21 anos esteve presente nas duas convocações de Carlo Ancelotti.
Saindo de terras britânicas, mas ainda na Europa, o volante Éderson, da Atalanta, soma três convocações - sendo uma na Copa América e uma já com Ancelotti - e é outro que está no radar da Amarelinha para a Copa do Mundo.
Entre os postulantes que atuam no futebol brasileiro, Andreas Pereira - que estava no futebol inglês e chegou recentemente ao Palmeiras - é o nome mais cotado para estar na lista final em 2026. Além dele, Jean Lucas - do Bahia - estreou pela Seleção na última Data Fifa e também entrou no radar.
3. Defesa
Ao mesmo tempo em que a zaga é a posição mais recheada de talentos à disposição da Seleção, a safra de laterais do Brasil tem deixado à desejar não em quantidade, mas em qualidade.
Começando pelos defensores centrais e considerando que Marquinhos - uma das lideranças desse grupo - é unanimidade para 2026, nomes como Gabriel Magalhães, Militão e Bremer, que atuam no altíssimo nível do futebol europeu, largam na frente. Alexsandro Ribeiro, do Lille, foi uma das novidades da primeira convocação de Ancelotti e jogou muito bem desde então, sendo mais um forte postulante a estar entre os quatro zagueiros convocados para a Copa do Mundo.
Além desses, os jovens Murillo e Beraldo - revelados por Corinthians e São Paulo, e hoje atuando por Nottingham Forest e PSG, respectivamente - também figuram como concorrentes. No Brasil, Léo Ortiz, do Flamengo, e Fabrício Bruno, do Cruzeiro, participaram deste ciclo, inclusive sob o comando de Ancelotti. Léo Pereira, também do Flamengo, nunca atuou pela Seleção, mas é outro que está no radar.
Ainda no futebol brasileiro, nomes como Robert Renan e Vitão, que foram muito presentes nas seleções de base e estão em boa forma no Brasileirão, também são possíveis concorrentes, além do experiente Thiago Silva. Ao todo, o Brasil tem nove opções de zagueiros que participaram deste ciclo e outros quatro que ainda podem pintar na lista final.
Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Contudo, as laterais talvez sejam as posições mais carentes do Brasil nesta geração, com muitas opções e poucas unanimidades. No lado direito, os jovens Wesley e Vanderson vem ganhando cada vez mais espaço, sendo os laterais escolhidos por Ancelotti em suas duas convocações. Vanderson se lesionou na última Data Fifa e abriu espaço para a convocação de Vitinho, do Botafogo, que foi titular contra a Bolívia. Além dele, o experiente Danilo, hoje no Flamengo, segue aparecendo nas pré-listas. Outro nome do futebol carioca cotado à posição é Paulo Henrique, do Vasco, que também apareceu na pré-lista de Ancelotti. Dodô, jogador da Fiorentina, é um nome que corre por fora nessa disputa.
No lado esquerdo, a situação está ainda mais aberta. Entre as principais opções estão Caio Henrique e Carlos Augusto, que jogam no Monaco e na Inter de Milão, respectivamente, além do experiente Alex Sandro, convocado na última Data Fifa.
Uma boa surpresa da última convocação foi Douglas Santos, do Zenit, que também surge como opção para a posição. Outros nomes que também podem concorrer à vaga são Guilherme Arana e Alex Telles, que já tem experiência na Seleção. Luciano Juba, do Bahia, é um jogador que tem evoluído bastante na função e tem sido um dos melhores da posição no futebol brasileiro, estando também no radar.
Considerando que Alisson é unanimidade e deve ser titular no gol brasileiro, diversos nomes concorrem como opções para a segunda e a terceira vaga para a posição. Hugo Souza e Bento estiveram presentes nas duas convocações de Carlo Ancelotti e parecem ser os favoritos na disputa. O experiente Ederson, hoje no Fenerbahçe, ainda não foi convocado com o italiano, mas segue no radar da Seleção.
Além deles, Gabriel Brazão, do Santos, e Léo Jardim, do Vasco, também podem aparecer na lista. Após um ótimo desempenho no primeiro turno do Brasileirão deste ano, o nome de Lucas Arcanjo, goleiro do Vitória, também foi ventilado na imprensa baiana e nacional.
A questão Neymar
Novamente lesionado, assim como na última convocação, Neymar ficará de fora da Seleção Brasileira mais uma vez. O jogador não veste a camisa da Amarelinha desde o dia 17 de outubro de 2023, quando sofreu uma lesão de ligamento cruzado anterior (LCA) contra o Uruguai.
Foto: Paolo Aguilar/Pool
Para Ancelotti, Neymar não precisa ser testado, e a única condição para que o craque volte para a Seleção é que ele esteja fisicamente bem e alie isso com um bom desempenho técnico, o que não vem acontecendo.
O talento resolve
Ao mesmo tempo que é possível analisar a situação do Brasil de uma perspectiva negativa, de que resta pouco tempo para a Copa do Mundo e que as chances de Ancelotti ajustar o time são baixas, também é possível olhar o contexto de um prisma otimista, baseado em outras campanhas do Brasil na Copa do Mundo. Ao contrário dos últimos dois ciclos, em que o Brasil liderou as eliminatórias e chegou na Copa do Mundo como um dos favoritos, mas caiu de forma precoce nas quartas de final, os últimos dois títulos da Seleção foram conquistados após ciclos marcados por oscilações e incertezas.
Em 1994, por exemplo, a Seleção só garantiu a vaga para a Copa do Mundo no último jogo das eliminatórias, em uma vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai no Maracanã, com dois gols decisivos de Romário, que por pouco não esteve em campo. Por conta de uma briga com o técnico Carlos Alberto Parreira, o Baixinho ficou de fora de boa parte do ciclo pré-Copa, mas foi convocado para o último jogo devido à pressão da torcida.
Foto: Peter Robinson/EMPICS
Ao olhar para 2002, o Brasil também se classificou para a Copa do Mundo após uma vitória na última rodada. Inicialmente com Vanderlei Luxemburgo, depois com Emerson Leão e finalmente com Felipão, o Brasil oscilou bastante durante o ciclo, ao ponto de a convocação de dois grandes craques ter sido questionada por grande parte das pessoas ao longo da campanha: Romário e Ronaldo.
O Baixinho, herói em 1994, acabou ficando de fora da lista final para a Copa do Mundo. Por sua vez, Ronaldo - que se recuperava das graves lesões no joelho que teve em 1999 e em 2000 - foi selecionado para integrar a equipe que representou o Brasil no torneio mundial e foi o grande protagonista da campanha do Penta.
Em resumo, um bom desempenho no ciclo importa muito para minimizar as deficiências, potencializar as qualidades e aumentar as chances de uma Seleção chegar bem preparada para a Copa do Mundo, coisa que o Brasil não conseguiu fazer. Contudo, em uma competição de tiro curto como a Copa, os talentos individuais podem fazer a diferença e ser decisivos para conquistar resultados positivos.
Para além disso, apostar e confiar na capacidade individual dos jogadores não significa abdicar de um coletivo organizado e bem treinado, o que pode ser alcançado com um técnico tão experiente e vitorioso como é Carlo Ancelotti.