Carne bovina bate R$ 150 o quilo nos EUA em meio a seca, restrições ao México e tarifaço ao Brasil
Mudanças climáticas, crise sanitária e barreiras comerciais criam alta histórica para consumidores
Foto: Claudio Belli/Valor
Os Estados Unidos enfrentam uma disparada histórica nos preços da carne bovina. A combinação de mudanças climáticas, restrições ao gado mexicano e barreiras comerciais ao Brasil gerou uma “tempestade perfeita” que já pesa no bolso do consumidor americano.
Dados da pesquisa mensal de inflação mostram que a carne para churrasco atingiu, em média, US$ 11,875 a libra (cerca de R$ 150 o quilo), a maior cotação da história. A alta foi de 3,3% em apenas um mês e de 9% nos últimos seis meses. A carne moída, base dos tradicionais hambúrgueres, também disparou: 3,9% de aumento em julho e 15,3% em meio ano, chegando a US$ 6,338 a libra (R$ 75 o quilo).
O primeiro fator por trás dessa escalada é o clima. A seca prolongada reduziu o número de animais nos pastos e comprometeu o peso médio dos bovinos. Em 12 de agosto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) voltou a cortar sua projeção de produção. A estimativa agora é de 25,9 bilhões de libras de carne bovina em 2025, queda de 1% em relação ao mês anterior e 4% abaixo da previsão do início do ano.
"A produção de carne bovina foi reduzida devido à redução do abate de bovinos alimentados e não alimentados e aos animais que têm registrado peso menor", destacou o relatório da última semana.
Três dias depois, outro golpe veio do México. O governo norte-americano manteve restrições à importação de gado vivo do país vizinho após a identificação da doença NWS (New World Screwworm), conhecida no Brasil como “bicheira do Novo Mundo”. Trata-se de uma praga devastadora: as larvas podem matar bovinos, afetar aves e, em casos raros, atingir seres humanos.
O bloqueio às importações de animais vivos do México está em vigor desde maio, mas a expectativa de reversão foi descartada. O USDA anunciou um plano de médio e longo prazo para conter a doença, incluindo a construção de uma fábrica de moscas estéreis no Texas, que serão usadas no combate biológico da praga em território mexicano.
Com menor oferta interna, barreiras às importações e condições climáticas cada vez mais desafiadoras, o consumidor norte-americano encara hoje um cenário inédito: pagar mais caro do que nunca por um dos alimentos mais tradicionais do país.