Irmãos médicos que levam uma forte tradição: Cosme e Damião, os padroeiros da medicina
Uma história de fé e amor ao próximo
Foto: Reprodução/ Flickr
Todos os dias 27 de setembro se tornaram uma data especial na vida de diversos devotos de Cosme e Damião. A data em que os santos foram assassinados por não negarem sua fé em Cristo. Tradição, cultura, laços... Adjetivos cheios de acalento que traduzem o sentimento do povo sobre dois irmãos que se entregaram à solidariedade e ao amor ao próximo.
No entanto, após uma mudança no calendário litúrgico em 1969, feita para evitar conflito com a morte de São Vicente de Paulo, cuja data é confirmada no dia 27, a Igreja Católica passou a celebrar Cosme e Damião em 26 de setembro. Entretanto, no Brasil e nas religiões de matriz africana, a comemoração permaneceu no dia 27, homenageando os Ibejis, entidades da cultura iorubá.
História de fé e amor ao próximo
Nascidos por volta do século III, na cidade de Egéia, localizada na Arábia, Cosme e Damião vieram de uma família nobre, onde, desde cedo, foram instruídos sobre o cristianismo. Ainda jovens, mudaram-se para a Síria, onde aprenderam medicina e se tornaram médicos, passando a cuidar das pessoas e animais de forma gratuita, enquanto evangelizavam seus pacientes.
No entanto, o imperador Diocleciano proibiu o cristianismo e ordenou a morte dos meninos santos por professarem sua fé e cuidarem das pessoas sem receber nada em troca. Cosme e Damião foram martirizados e decapitados. Todavia, antes da decapitação, diversas formas de execução foram tentadas, mas nenhuma causou a morte dos irmãos.
Cosme e Damião no sincretismo religioso
Na tradição dos povos iorubá, na África, os Ibejis são divindades gêmeas, filhos de Xangô, orixá do fogo, e Oxum, orixá das águas doces, do amor e da fertilidade. Eles simbolizam a dupla força da vida: o masculino e feminino, espiritual e material, alegria e tristeza, nascimento e morte.
De acordo com Dina Santos, artesã, autodidata e promotora da valorização da cultura afro-brasileira, descendente da cultura iorubá e candomblecista, no sincretismo religioso os Ibejis são associados a Cosme e Damião. "Os Ibejis, portanto, são símbolos de pureza, equilíbrio e fartura, e sempre foram cultuados com alegria, danças, comidas doces, feijão-fradinho e quiabo, marcando a força da infância como bênção para toda a comunidade", explica a artesã. O surgimento de gêmeos em uma família é considerado sagrado na cultura iorubá, trazendo prosperidade e proteção para a família.
Com a chegada da cultura africana ao Brasil durante o período escravocrata, os Ibejis foram associados a Cosme e Damião, santos gêmeos do catolicismo, conhecidos pela caridade e pelo cuidado com as crianças. Esse encontro de crenças se tornou uma forma de resistência e preservação da ancestralidade, em um processo chamado de "africanização", quando os africanos utilizavam as imagens de santos católicos para manter vivos seus orixás e tradições.
Daí nasceu uma das tradições mais fortes da religiosidade popular brasileira: o caruru de Cosme e Damião, celebrado no dia 27 de setembro com partilha de alimentos e a distribuição de doces e guloseimas às crianças, que é um dos símbolos mais marcantes da data, representando a generosidade, a pureza e a alegria da infância. O dia festivo não é feriado nacional, mas em cidades com forte influência da cultura afro-brasileira é considerado feriado municipal. Mais do que uma festa, é um gesto de alegria e união, que reforça os laços comunitários e mantém viva a herança africana entre nós.