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Lobby das apostas online esvazia CPI e reforça presença nos bastidores do Congresso

Comissão foi desmontada antes de apresentar relatório e revela influência crescente das “bets” entre políticos, juízes e celebridades.

| Autor: Redação Varela Net
Lobby das apostas online esvazia CPI e reforça presença nos bastidores do Congresso

Foto: Daniel Cymbalista/Fotoarena

As casas de apostas online, conhecidas popularmente como bets, não apenas movimentam cifras bilionárias mensalmente no Brasil, como também ampliam sua presença nos corredores do poder em Brasília. Sua força política já começa a se equiparar à de blocos tradicionais como as bancadas da bala, do boi e da Bíblia.

Segundo reportagem publicada pela revista Piauí, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar os lucros e os impactos sociais das apostas digitais foi esvaziada por pressão do lobby das próprias empresas do setor. Em junho, o Senado rejeitou o relatório final da comissão, que não chegou a ser aprovado. “As bets têm influência econômica na sociedade e no Parlamento. Na verdade, elas têm lobby em todos os poderes”, afirmou Alessandro Vieira, vice-presidente da CPI.

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da comissão, havia apresentado 19 propostas legislativas para mitigar os efeitos negativos das apostas virtuais e propôs o indiciamento de 16 pessoas. Entre os citados estava Fernando Oliveira Lima, o “Fernandin OIG”, ligado à empresa One Internet Group (OIG), suspeito de crimes como lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nomes conhecidos do mundo digital, como as influenciadoras Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, também apareceram nos documentos da investigação.

Apesar de a comissão ter sido encerrada sem apresentar resultados práticos, o processo revelou articulações entre os operadores do jogo online e figuras do meio político, jurídico e até do entretenimento.

O Relatório de Inteligência Financeira (RIF) relacionado a Fernandin revelou uma evolução patrimonial expressiva: seu capital passou de R$ 36 milhões, em 2022, para R$ 143 milhões no ano seguinte — um crescimento de 300%, sem justificativas claras. Um dos negócios que chamou a atenção das autoridades envolvia transações com uma construtora de Teresina, que tem como sócia a empresa Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis, do senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Entre 2023 e 2024, uma das empresas de Fernandin também emitiu oito cheques, totalizando R$ 1,8 milhão, destinados a uma firma da qual o cantor Gusttavo Lima é sócio.

Os próprios RIFs ligados a Gusttavo Lima mostram uma movimentação suspeita: a Balada Eventos e Produções, empresa dele, transferiu R$ 8 milhões em uma única operação para a Supermercados BH Comércio de Alimentos. Um dos sócios do supermercado é Waldir Rocha Pena, investigado por envolvimento em um esquema de corrupção, fraudes fiscais e lavagem de dinheiro no Ministério da Agricultura.

Durante depoimento à CPI, Fernandin foi questionado sobre sua proximidade com o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal. Ele confirmou a relação de amizade. “De mais de dez anos atrás, de lá do Piauí, de panelada, de comer buchada de bode e galinha caipira.” O empresário também confirmou que deu carona ao ministro em uma viagem à ilha de Mykonos, na Grécia, onde ambos participaram da festa de aniversário de Gusttavo Lima.

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