Protestos e pressão: Como a população impacta decisões legislativas
A opinião pública mostra seu peso nas decisões do Congresso

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Nos últimos dias, as ruas brasileiras voltaram a ser palco de manifestações que refletem a polarização política do país. Milhares de pessoas se mobilizaram para defender ou rejeitar dois temas em debate no Congresso Nacional: a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e a chamada PEC da Blindagem, proposta que altera as regras de investigação e julgamento de parlamentares.
De um lado, grupos favoráveis à anistia pediram a libertação dos condenados, defendendo que o país precisa de reconciliação e superação das tensões políticas geradas após os ataques às sedes dos Três Poderes. Do outro, manifestantes contrários à medida alertaram que a anistia representaria impunidade diante de um dos episódios mais graves da história democrática recente.
Além da anistia, a PEC da Blindagem, aprovada na Câmara dos Deputados e reprovada no Senado, também mobilizou intensos protestos. A proposta estabelecia que parlamentares só poderiam ser processados criminalmente com autorização prévia da própria Casa Legislativa, por votação secreta, sendo vista por críticos como uma tentativa de restringir a atuação do Judiciário e ampliar privilégios políticos.
Movimentos sociais, partidos e artistas convocaram atos em dezenas de cidades, incluindo Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Na capital baiana, manifestantes se concentraram na orla da Barra/Oceânica, com participação de figuras culturais, e seguiram em caminhada pacífica, mas marcada por forte simbolismo político. As mobilizações repercutiram amplamente nas redes sociais, evidenciando o engajamento da população diante de medidas em tramitação no Congresso.
Enquanto as ruas se enchem de vozes divergentes, o Congresso Nacional enfrenta um dos períodos mais delicados desde o início da atual legislatura. Parlamentares favoráveis à anistia defendem que muitas condenações foram severas e que o país precisa encerrar um ciclo de perseguições. Já os contrários argumentam que o perdão fragilizaria o Estado Democrático de Direito e desrespeitaria as vítimas dos atos de vandalismo.
Segundo levantamento realizado pelo instituto Quaest entre os dias 12 e 14 de setembro de 2025, 41% dos brasileiros se declararam contrários à anistia, enquanto 36% afirmaram ser favoráveis, incluindo a extensão do perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Outros 10% apoiaram a anistia apenas para os manifestantes, excluindo autoridades políticas, e 13% não souberam ou preferiram não responder. O levantamento evidencia uma divisão na opinião pública, mas com leve predominância de rejeição à proposta de anistia ampla, geral e irrestrita.
As manifestações mostram que a voz do povo vai além de simbolismo: elas pressionam, moldam debates e influenciam decisões no Congresso. Historicamente, parlamentares têm demonstrado cautela diante de propostas polêmicas quando percebem forte mobilização social. Hoje, as ruas brasileiras deixam claro que cada ato, cada protesto e cada opinião expressa publicamente compõem um mecanismo de controle e diálogo entre sociedade e legislativo. Em temas sensíveis como a anistia e a PEC da Blindagem, a pressão popular funciona como um lembrete constante de que decisões políticas não ocorrem isoladamente, mas sob o olhar atento da população.