Crítica: Fuga, Verdade e Solidão: A dor em O Agente Secreto
O Agente Secreto é uma obra densa, sincera e sem medo de expor as dores

Foto: Reprodução / X
A nova obra do cinema nacional do diretor Kleber Mendonça Filho (Bacurau), O Agente Secreto, mexe com a estrutra de quem assiste, principalmente ao se colocar no lugar do personagem principal Marcelo, que vive foragido no Recife em um Brasil da década de 70. Trazendo uma trama com tom de mistério e trilher, a obra aplaudida por 13 minutos em Cannes é impactante e tensa, devido a situação vivida pelo personagem.
Se passando na capital de Pernambuco, a trama é em torno da vida de Marcelo, um especialista em tecnologia que vive "refugiado" de uma grande caçada contra a sua vida por um magnata brasileiro. Seguindo sua nova rotina, o longa-metragem mostra as dificuldades e o dia a dia de uma típica capital nordestina no período em que se segue, com as ruas sendo tomadas principalmente pelo Carnaval, além da violência e de uma polícia miliciana. Marcelo, que na verdade se chama Arlindo, foi um dia chefe de departamento de uma faculdade pública que desenvolvia diversas pesquisas na área da tecnologia. Com o passar dos anos, o mesmo viu sendo perseguido pelo "sistema" e iniciou sua busca para fugir do país, em prol de uma vida melhor para si mesmo e seu pequeno filho.
O Agente Secreto traz fortes críticas ao período ditatorial brasileiro, levantando pautas sobre a corrupção dentro de órgãos públicos, milícias dentro de delegacias que deveriam proteger a sociedade, manipulação pelos poderes e o preconceito existente. Contando com um tom sério, mas com pitadas de humor, o longa tem como pontos mais do que positivos a forma de inserir o público dentro do ambiente e prender o mesmo até o fim das rápidas 2 horas e 40 minutos. Além disso, o longa se torna bastante contextualizado e explicado, mesmo que não faça esse movimento de forma óbvia, fazendo consequentemente com que você pense e repense sobre tudo que se passa na tela.
Se tratando do papel do aclamado Wagner Moura, o ator desempenha um grande trabalho ao conseguir entregar com bastante veracidade sobre a vida de um homem que busca com todas as suas forças retornar a normalidade e achar documentos sobre sua mãe, precisando conviver com seus demônios do passado e atual. Consequentemente, o espectador também começa a sentir seus medos, receios e inicie uma busca junto à Marcelo, a sua saída.
Infelizmente, o final do filme quebra a expectativa e mostra que a realidade da época era mais dura do que se esperava. Além do próprio Wagner, outros grandes atores que fizeram parte do elenco como Gabriel Leone, Roney Villela, Maria Fernanda Cardoso entre outros, fazem com que a obra se torne impactante, emblemática e boa de se assistir.
O Agente Secreto é um filme com uma carga emocional muito densa, que demonstra que mesmo dentro das maiores dificuldades do mundo, boas ações existem por meio de boas pessoas, mas que a realidade da sociedade é muito mais cruel do que se espera, principalmente em termos de preconceito, xenofobia, estereótipos e extremismo, precursores do "inferno de Dante" vivido por 'Marcelo' Aroldo.


