Do atentado ao título da Copa do Nordeste: A história de Danilo Fernandes no Bahia
Goleiro viveu diferentes fases dentro do clube, mas sempre demonstrou profissionalismo e competência

Danilo Fernandes orando pós jogo |Foto: @therafão / EC Bahia
No futebol, existem casos reais de uma conexão forte entre um atleta e a torcida do clube que defende, criando laços baseados no carinho e se tornando ídolo pela grande maioria dos fiéis. Isso ocorre para aqueles jogadores que fizeram história ao conquistar um conjunto de grandes títulos, como também devido ao seu caráter e profissionalismo ao defender as cores da instituição. Esse é o caso do goleiro Danilo Fernandes, do Esporte Clube Bahia, que após anos de diferentes momentos dentro do clube, se tornou um grande ídolo por sua torcida.
INÍCIO
Danilo Fernandes chegou ao Bahia após passagem pelo Internacional, ao substituir o gaúcho Alisson Becker, e ter se destacado no Campeonato Brasileiro do ano anterior pelo Sport Clube de Recife. Desembarcando em Salvador para a disputa do Campeonato Brasileiro do ano de 2021, o goleiro acabou estreando em uma derrota por 2 a 0, contra o Atlético Mineiro.
Em seus seis primeiros meses dentro do Bahia, Danilo acabou se tornando parte do plantel que marcaria o último rebaixamento do time baiano, mesmo fazendo boas atuações nesse período. O goleiro fez, ao todo, 16 partidas como titular naquele período, tomando 14 gols em relação à quantidade de jogos disputados. Mesmo assim, continuou sendo destaque, com uma média de 83,6% de defesas ao ser necessitado e tendo uma boa sequência de 6 jogos sem tomar gols, o que era bastante difícil para o time do Bahia na época, já que o setor defensivo era bastante enfraquecido e criticado. Porém, mesmo com as boas atuações, Danilo chegou a um clube desestruturado tecnicamente, herdando problemas defensivos e de resultados, os quais resultaram no difícil rebaixamento.
Com a temporada de 2022 sendo agora na Série B - segunda divisão nacional -, o goleiro viu bons companheiros decidindo sair do clube, como o atacante e ídolo Gilberto e o zagueiro Conti. Entretanto, mesmo recebendo propostas para a Série A, permaneceu e conseguiu imediatamente o acesso no mesmo ano. Danilo conquistou o carinho da torcida, dos seus companheiros e da diretoria nessa temporada, já que mesmo na maior dificuldade, permaneceu profissional e motivado para colocar o Bahia novamente na primeira divisão, também motivando seus companheiros a todo momento. Seu comprometimento era visto em suas falas, mesmo após o rebaixamento - algo que prejudica o currículo de um atleta. “Apenas três anos e meio aconteceu muita coisa. Eu cheguei, em seis meses praticamente tivemos um rebaixamento, onde, pela minha postura e pelo meu profissionalismo, eu jamais pensei em sair naquele momento, após uma queda”.
ATENTADO E O RESSIGNIFICADO DE SUA FUNÇÃO
Há quem acredita que a única dificuldade vivida pelo goleiro foi somente o rebaixamento, mas se engana. Ainda no ano do rebaixamento, quando o elenco se encaminhava para uma partida da Copa do Nordeste contra o Sampaio Corrêa, no dia 24 de fevereiro, o ônibus que levava a delegação do Bahia foi atacado por uma bomba caseira, que invadiu o corredor do transporte e explodiu acertando alguns jogadores, principalmente Danilo Fernandes.
O goleiro acabou sofrendo graves ferimentos, que resultaram em 20 pontos distribuídos na orelha, rosto e perna. Um dos estilhaços ficou bastante próximo de seu olho, mais especificamente da retina, o que resultaria em uma possível cegueira ao jogador, que exigiu uma cirurgia perigosa com laser em seu olho. Para dificultar ainda mais, um vidro classificado como "o tamanho de uma metade de dedo" foi retirado de dentro do seu pescoço.
Mesmo assim, o goleiro, que teria motivos para desistir, continuou no clube e manteve o seu profissionalismo, entrando em campo e defendendo as cores do Bahia.
No ano seguinte, em 2023, com a chegada do goleiro Marcos Felipe, Fernandes acabou perdendo minutos em campo, porém ressignificou seu lugar dentro do elenco, se tornando um grande mentor para os jovens do time e ainda mais um motivador dos seus colegas, antes de todas as partidas.
LEGADO E CARINHO DA TORCIDA
Pulando para o ano de 2025, Danilo viveu o ápice da vida de um atleta profissional. Iniciando no banco na final da Copa do Nordeste, o arqueiro ouviu seu nome ser clamado pela torcida durante a partida, para sua entrada. Em tons de "Danilo, Danilo, Danilo", ao calçar as luvas, a torcida vibrou como se fosse um gol e, ao entrar em campo, a torcida gritou mais alto do que nunca, aplaudindo e reverenciando o atleta.
Outro ponto de destaque ao jogador é seu respeito também com os funcionários do clube. Bruno Queiroz, assessor de imprensa do Esquadrão, durante seu período no clube, viveu uma luta intensa contra o câncer, que infelizmente não conseguiu vencer, falecendo no dia 17 de janeiro de 2025. Dividindo uma grande relação de amizade e respeito com Bruno, Danilo continuou levando o legado do seu amigo durante toda a temporada de 2025.
Após o falecimento de Bruno, Danilo publicou uma linda mensagem em suas redes sociais se despedindo do colega, o chamando de "irmão" e garantindo que jamais "seria esquecido", o que realmente faz. Sete dias após sua ida, o goleiro entrou em campo pela Copa do Nordeste com uma camisa estampada com a frase marcante de Bruno: "O que me cura todo dia é o Bahia", além de, após vencer o torneio na mesma edição, fez questão de subir com uma foto emoldurada de Bruno Queiroz, para fazer seu "irmão", viver a experiência de campeão, com o clube que amava.
O caráter positivo, o profissionalismo e a conexão que Danilo demonstrou em todo seu período no Bahia, fizeram com que ele entrasse no "quadro" de ídolos do clube, para todo sempre.