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Dia da Consciência Negra: conheça Udi Santos, cantora, empresária e produtora

Artista contou sua trajetória e vida em entrevista ao Varela Net

| Autor: Everton Santos
Dia da Consciência Negra: conheça Udi Santos, cantora, empresária e produtora

Foto: Domingos Júnior/Varela Net

Mulher preta, artista, empresária. Aos 30 anos, Udi Santos é assim, multifacetada. Não à toa, ocupa hoje o lugar em que sempre quis estar. “Eu sempre gostei muito de dança. Eu adorava o breakdance, mas só tinha meninos dançando. Então eu não me sentia muito à vontade. E eu escutava muito rap, como Racionais, Karol Conká, Facção Central. Eu escutava essa galera e queria cantar, mas meu pai me mandou estudar”, relembra a cantora de rap em entrevista ao Varela Net por ocasião do Dia da Consciência Negra. [Assista à integra aqui]

A data, celebrada neste domingo (20), foi estabelecida por coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.

Moradora do subúrbio de Salvador, Udi, tal como o maior dos quilombos, travou uma série de embates até se reinventar como artista. Antes disso, ingressou na Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde se formou em medicina veterinária. À época, os livros a afastaram da música por algum tempo. Em 2016, a perda do pai foi crucial para reaproximá-la dos versos e rimas novamente. 

“Eu estava perto de concluir o mestrado, quando recebi uma ligação de que meu pai estava mal. Quando eu cheguei no hospital, minha irmã só me informou que ele morreu”, rememora Udi, ao narrar o episódio que a jogou num “limbo”.  Mas ela se reergeu.

“Eu passei a ter crise de ansiedade. A minha saída para sair desse modo foi começar a compor, a escrever. E cada vez que eu escrevia, eu me levantava um pouco mais. Era o que eu sabia que ia me manter viva”, conta ela.

Após concluir o mestrado, Udi seguiu em busca de seu sonho: tornar-se cantora e viver somente da música. Durante sua trajetória, a artista participou de um grupo de rap e, na sequência, abriu sua própria produtora —a EuMelanina Produções—, focada em mulheres que querem cantar o gênero, ainda pouco difundido no universo feminino.

Assim, Udi se vê representar e inspirar outras tantas mulheres negras de sua comunidade. Mas sua caminhada não foi nada fácil.

“Eu tive que ressignificar várias coisas. Primeiro, me entender como mulher negra. Me achar bonita, enquanto uma mulher preta. Eu fui soltar meu cabelo com 19 anos pela primeira vez. Eu posso ser médica veterinária. Eu posso ser artista. Eu posso ser o que eu quiser”, reverbera a cantora, que passou a contar com o apoio da mãe. 

Apesar das dificuldades, Udi já tem seu nome conhecido no cenário musical. E a artista, que não romantiza suas lutas, lembra-se sempre do pai ao refletir sobre sua caminhada.

“É o tempo inteiro desde que a gente acorda. A gente só precisa soltar o cabelo, colocar uma trança para ser negado pela sociedade. Eu agradeço muito a mim por nunca ter desistido e acreditar que vai dar certo. Esse ‘vai dar certo’ é muito do meu pai. Ele passou por situações de ser escravizado mesmo. Mas, para ele, tudo ia dar certo e eu levo isso pra minha vida”, diz a cantora.
 

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