Referência na hepatologia, Doutor Raymundo Paraná alerta para a escassez de especialistas no Brasil
Em sua fala, o médico destacou que a formação desses profissionais ainda é recente e limitada no país
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Na noite da última terça-feira (14), o médico hepatologista e professor titular de Gastro-Hepatologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor Raymundo Paraná, usou suas redes sociais para fazer um alerta importante. O profissional costuma utilizar essas plataformas para tratar de assuntos médicos e chamar atenção para questões relevantes da área. Desta vez, ele destacou a grave escassez de hepatologistas no Brasil, médicos especialistas em doenças do fígado.
Em sua fala, o médico destacou que a formação desses profissionais ainda é recente e limitada no país. “O modelo de formação do profissional hepatologista no país é complexo, nós só tivemos uma residência médica realmente em hepatologia a partir de 2010, tem muito pouco tempo”, afirmou.
Além disso, segundo Paraná, o modelo de remuneração atual também não estimula os jovens médicos a seguirem essa especialidade. “O modelo de remuneração das especialidades clínicas também não favorece para que os jovens escolham a hepatologia como especialidade”, disse.
Ele explica que, por conta disso, os poucos que escolhem essa área acabam atendendo no setor privado, deixando de atuar no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os poucos que escolhem sabem que existem poucos hepatologistas e habitualmente eles passam a ter uma clientela muito rapidamente, uma clientela privada, e deixam de atender a população, sobretudo os usuários do SUS. Natural que isso não aconteça porque é um profissional liberal.”
Outro ponto levantado pelo médico é a ausência de concursos públicos e de centros de referência. “Nós somos hoje áreas de atuação e como área de atuação, não há concursos públicos. Sem concursos públicos, não há estímulo à formação de centros de referência.”
Essa situação impacta diretamente o acesso da população ao diagnóstico e tratamento adequado de doenças hepáticas. “Nós temos hoje uma dificuldade de acesso a um profissional hepatologista, isso é que gera discrepância entre pacientes que morrem com doenças hepáticas e os que estão inscritos em lista de transplante”, alertou.
Segundo ele, muitos pacientes acabam sendo atendidos de forma inadequada por falta de encaminhamento a centros especializados. “Boa parte dos pacientes está por aí, rodando nas UPAs ou na assistência à saúde, sem ter tido a oportunidade de ser orientado num centro de referência para que possa ter acesso às melhores práticas que podem salvar a sua vida.”
O professor ainda critica a desigualdade no acesso aos especialistas. “Os pacientes mais abastados, que têm planos de saúde, que têm acesso a boas instituições, esses conseguem ter acesso a um hepatologista, mas esses são 25% da população. 75% da população não tem essa facilidade e acaba sucumbindo antes de ter a oportunidade de acessar um serviço de referência de alta complexidade em hepatologia.”
Segundo ele, esse problema é antigo, mas pouco se avançou até agora. “Desde 2003, se tenta reverter essa situação e não se consegue, apesar de provas claras de que a população é a principal vítima desta situação.”
Para o médico, é urgente que haja uma mobilização para mudar esse cenário. “Eu espero que haja uma mobilização no sentido de reverter essa situação perversa, que mais uma vez atinge os indivíduos mais vulneráveis [...] Tudo isso é muito lamentável, mas mais lamentável ainda é a inércia e a falta de vontade de resolver essa situação.”