Governo Bolsonaro pagou R$ 260 por quilo de pescoço de galinha para indígenas
Superfaturado, preço é 24 vezes maior do que o mesmo produto vendido em outros contratos da gestão

Foto: Rafael Vilela/Divulgação/Articulação dos Povos Indígenas
O governo de Jair Bolsonaro comprou no ano passado pescoço de galinha superfaturado para indígenas na Amazônia, revela reportagem do jornal o Estado de S. Paulo. Sem licitação, o produto custou R$ 260 o quilo. O valor é 24 vezes maior do que o preço médio de R$ 10,7 do mesmo item adquirido em outros contratos fechados no mesmo período pelo governo. Nas prateleiras de grandes redes de supermercados, a carne de pescoço pode ser encontrada por até R$ 5 o quilo.
Segundo a publicação, responsável pela aquisição do pescoço, a coordenação regional da Funai, a atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas, no Rio de Madeira (AM), comprou também mais de uma tonelada de charque, maminha, coxão duro, alcatra e latas de presunto que nunca foram distribuídas entre as famílias das aldeias na época da pandemia da covid-19. Na região onde a carne deveria ser distribuída, indígenas de recente contato, como os pirahãs, enfrentam fome e desnutrição. O atual comando da Funai e a gestão do órgão no governo Bolsonaro não se posicionaram sobre a compra.
O pescoço de frango foi comprado para indígenas da etnia Mura e funcionários da Funai numa missão em Manicoré, na floresta amazônica. O gasto total com as aquisições de carne chegou a R$ 927,5 mil, entre 2020 e 2022. Deste valor, R$ 5,2 mil foram para adquirir o lote de 20 quilos de carne de pescoço a R$ 260 o quilo. Não há registros da entrega do produto nesse período. Com R$ 5,2 mil seria possível comprar meia tonelada de pescoço de galinha se o governo tivesse seguido o mesmo preço do produto pago em outros contratos, de R$ 10. Para efeito de comparação, o quilo da picanha em um dos maiores supermercados do País custava R$ 70 nesta segunda-feira (15).
Em uma série de reportagens, o Estadão revelou que o governo Bolsonaro comprou 19 toneladas de bisteca para o Vale do Javari (AM) que nunca foram entregues e gastou R$ 4,4 milhões para fornecer sardinha e linguiça aos indígenas yanomamis, contrariando orientação técnica e alertas do Ministério Público de que esse tipo de alimento não é apropriado e faz mal à saúde dos povos da região.