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Fé, tradição e festa: conheça a história e as devoções aos Santos Juninos

Fé, tradição e festa: conheça a história e as devoções aos Santos Juninos

Santo Antônio, São João e São Pedro são celebrados em junho com fé, fogueiras e muita festa pelo Brasil

| Autor: Iarla Queiroz

Foto: Luis Fraga | Shutterstock

Junho é sinônimo de bandeirolas no ar, comidas típicas, quadrilhas animadas e, acima de tudo, muita devoção. Isso porque o mês é dedicado a três figuras centrais do catolicismo: Santo Antônio (13), São João Batista (24) e São Pedro (29). Conhecidos como os “Santos Juninos”, eles têm suas histórias entrelaçadas às festas populares trazidas pelos portugueses e que, no Brasil, foram enriquecidas por elementos indígenas e africanos.

As chamadas Festas Juninas, que hoje se espalham por todo o país — especialmente no Nordeste —, têm raízes que antecedem o cristianismo. Antes de ganhar caráter religioso, essas celebrações eram pagãs e ocorriam no hemisfério norte durante o solstício de verão, marcando o início das colheitas. Com a expansão do cristianismo, a Igreja incorporou os ritos e passou a celebrar o nascimento de São João Batista, transformando a festa joanina em festa junina.

Com o tempo, Santo Antônio e São Pedro também foram incluídos na comemoração. A tríade passou a simbolizar não apenas a fé, mas também valores como o amor, a esperança e a proteção divina sobre a terra e os lares.

Santo Antônio: o casamenteiro dos pobres

Nascido em Lisboa no dia 15 de agosto de 1195, com o nome de batismo Fernando de Bulhões, Santo Antônio escolheu abandonar os privilégios da corte real para seguir a vida religiosa. Ingressou na Ordem dos Franciscanos em 1221 e ficou conhecido por suas pregações e pelos inúmeros milagres atribuídos a ele ainda em vida, como curas e bilocações.

Sua morte ocorreu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231. Um ano depois, foi canonizado pelo Papa Gregório IX. Já em 1946, recebeu o título de Doutor da Igreja, concedido pelo Papa Pio XII. Sua língua, considerada incorrupta, encontra-se preservada na Basílica de Pádua.

A fama de “santo casamenteiro” vem de uma história marcante:

“Uma moça não dispunha do dote para casar-se e, confiante, recorreu a Santo Antônio. Das mãos da imagem do Santo teria caído um papel com um recado a um prestamista da cidade, pedindo-lhe que entregasse à moça as moedas de prata correspondentes ao peso do papel.”

O milagre se concretizou, e desde então o santo passou a ser invocado por quem deseja encontrar um par — e também por aqueles que perderam objetos.

São João: o profeta do fogo e da fé

Filho de Isabel e Zacarias, e primo de Jesus, São João Batista nasceu na região montanhosa de Judá. Seu nascimento foi anunciado pelo anjo Gabriel e ocorreu três meses antes do nascimento de Cristo. Por isso, sua festa é celebrada em 24 de junho.

Recluso no deserto da Judeia, João começou a pregar às margens do Rio Jordão, onde batizou muitas pessoas, inclusive Jesus. Foi o próprio Cristo quem o canonizou ainda em vida, chamando-o de “maior dentre os homens nascidos de mulher”.

Além de ser um dos santos mais festejados no mês de junho, São João também inspira tradições marcantes das festas juninas. A fogueira, por exemplo, remonta à forma como Isabel avisou Maria sobre o nascimento do filho:

“Outro exemplo da fama do santo são as fogueiras, típicas da festa, a tradição foi trazida do continente europeu e representava o aviso a Maria do nascimento de João, filho de sua prima Isabel.”

A utilização de fogos de artifício também tem significados religiosos e simbólicos. Em Portugal, serviriam para espantar maus espíritos; no Brasil, acredita-se que representam o despertar de João.

Padroeiro dos doentes e dos casados, São João é celebrado com tanta intensidade que, em algumas localidades, o mês de junho é sinônimo de festa joanina.

São Pedro: a pedra da Igreja e guardião das chuvas

Apóstolo de Jesus e considerado o primeiro Papa da história, São Pedro nasceu na região de Betsaida, na Palestina, no final do século I a.C. Seu nome original era Simão, mas Jesus o rebatizou como Pedro — “a pedra sobre a qual edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).

Antes de seguir Cristo, era pescador no Mar da Galileia. Após a morte de Jesus, teve papel central na consolidação da Igreja, sendo martirizado em Roma, no ano de 64 d.C., sob o comando do imperador Nero. Suas relíquias estão sob o altar principal da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

No Nordeste brasileiro, é venerado especialmente como “chaveiro dos céus” e protetor das chuvas. A devoção popular a ele também é marcada por tradições curiosas:

“Segundo a tradição, é obrigação dos viúvos e das viúvas acender uma fogueira na porta de casa durante a noite do dia 29.”

Sua festa, celebrada em 29 de junho, também marca o encerramento das festividades juninas em muitos municípios do interior. É considerado padroeiro dos viúvos, dos pescadores e do Papa.

Os três santos — Antônio, João e Pedro — representam pilares da fé católica e da identidade cultural brasileira. A festa que começou como ritual pagão transformou-se numa das manifestações populares mais ricas do país, misturando fé, alegria, esperança e gratidão. Que neste mês de junho, cada fogueira acesa continue iluminando as tradições que atravessam os séculos.

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