Dono do Shakhtar Donetsk é apontado como pró-Rússia e ilustra tensões na Ucrânia
Dirigente assumiu o clube em 1996 e tem acusações de um passado ligado ao crime
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No conflito entre Rússia e Ucrânia, é difícil dizer o posicionamento do dono do Shakhtar Donetsk, um dos maiores clubes ucranianos, Rinat Akhmetov. Com uma fortuna avaliada em 7 bilhões de dólares, ele é um dos homens mais ricos do mundo e tem uma trajetória controversa, mas que ajuda a compreender a guerra que se instalou no Leste Europeu.
De origem humilde, Akhmetov nasceu em Donetsk, uma das regiões separatistas que tiveram a independência reconhecida pela Rússia. Ele é dono de uma holding que atua nos setores financeiro e industrial da Ucrânia e, mesmo com acusações de ter um passado ligado ao crime, disse que ficou rico por fazer investimentos em "ativos que ninguém queria comprar", entre os anos de 1985 e 1995.
"Eu ganhei meu primeiro milhão vendendo carvão. Gastei o dinheiro em ativos que ninguém queria comprar. Foi um risco, mas valeu a pena", afirmou Akhmetov em entrevista concedida à imprensa ucraniana em 2010.
Comandando o Shakhtar desde 1996
Akhmetov se tornou presidente do clube mais popular da região de Donbas em 1996, e isso aconteceu um ano após o antigo dono do clube, Akhat Bragin, ser assassinado em um atentado a bomba no estádio do Shakhtar na época.
De lá pra cá, o dirigente deu início a um processo que levou a equipe de Donetsk rumo ao sucesso no futebol europeu. O clube criou uma cultura de apostar sempre em jogadores brasileiros. Tanto que, no plantel atual, há 13 deles.
Durante este período, o Shakhtar venceu a Copa da Uefa (atual Liga Europa) em 2009 e foi campeão da liga nacional em 13 oportunidades. Akhmetov também bancou a construção da Donbas Arena, estádio moderno produzido em 2009, mas que precisou ser abandonado em 2014, quando foi atingido por mísseis naa guerra que culminou na anexação da Crimeia à Rússia.
Nenhum contato com os brasileiros desde a invasão
Apesar da da forte cultura em contratar brasileiros, a relação foi comprometida após a invasão russa. Os jogadores e a comissão técnica foram se proteger no hotel Opera, na cidade de Kiev. O local costuma servir de concentração antes dos jogos, mas acabou virando um bunker.
Desde então, não houve mais contatos do clube. Os brasileiros permanecem no hotel aguardando ajuda do governo brasileiro e preferiram não embarcar num trem para o oeste da Ucrânia, temendo falta de segurança. Eles estão preocupados com a falta de mantimentos.
A presença dos brasileiros em Kiev gerou controvérsia. O clube fez uma intertemporada na cidade de Belek, na Turquia, e retornou à Ucrânia no último domingo (20), na véspera da invasão russa. Questionamentos foram feitos a respeito da necessidade de voltar ao país diante da iminente ameaça, mas o clube alegou que tudo daria certo.
A atitude do Shakhtar é semelhante a do rival Dínamo de Kiev, que também esteve fora da país e optou por voltar mesmo com a provável invasão russa.
Envolvimento na política
Enquanto o Shakhtar se consolidava no futebol europeu, Akhmetov se mantinha envolvido na política ucraniana. Conhecido por seu trabalho filantrópico, ele é muito ligado a Viktor Yanukovych, presidente do país entre 2010 e 2014.
Yanukovych era considerado um governante favorável a Rússia, e sua saída do cargo foi uma das razões para o início da tensão entre as duas nações. Desde então, a Ucrânia se afastou da influência russa e passou a se aproximar do Ocidente.
Akhmetov fez parte do mesmo partido político de Yanukovych, o Partido das Regiões, ligado à Rússia. O dono do Shakhtar chegou a ser membro do parlamento ucraniano entre 2006 e 2012. Após o enfraquecimento da sigla, mudou para o partido Bloco de Oposição, que encerrou as atividades em 2021. Desde então, Akhmetov mostrou vontade de criar um novo partido.
Em novembro de 2021, o atual presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou Akhmetov de estar envolvido em um plano russo para promover um golpe de estado. O dono do Shakhtar se defendeu e afirmou que as acusações eram "uma absoluta mentira". Ainda assim, os dois são vistos como oponentes políticos, embora tenham trabalhado juntos no início da pandemia de Covid-19.
A ligação de Akhmetov com a Rússia, porém, não é tão cristalina. Em 2017, separatistas pró-Rússia tomaram controle de empresas de Akhmetov na região de Donbas. Em 2014, ele se mostrou contra a independência da região.
"Será muito difícil para Donbas sem a Ucrânia, e muito difícil para a Ucrânia sem Donbas. Eu estou convicto de que Donbas só pode ser feliz em uma Ucrânia unificada", afirmou Akhmetov na época.