NotíciasSaúdeCovid-19: Quando o vírus adoece até mesmo os que não se infectaram

Covid-19: Quando o vírus adoece até mesmo os que não se infectaram

Enquanto alguns não se vacinam, existem pessoas que, por medo da doença, sofreram consequências psicológicas e realizaram isolamento por tempo excessivo

| Autor: Sanny Santana

Foto: Varela Net / Divulgação

Enquanto alguns desrespeitam medidas restritivas, deixam a máscara de lado, pedem pelo Carnaval 2022 e não se vacinam, existem pessoas que estão em uma realidade totalmente diferente, temendo o vírus da Covid-19 de maneira que trouxesse consequências psicológicas e isolamento maior que o estabelecido pelo governo ou pelos cientistas. 

É o caso de Brenda Almeida, moradora de Salvador, de 20 anos, e estudante do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistema, que desenvolveu ansiedade por conta da pandemia e chegou a se manter isolada antes mesmo que o lockdown fosse implantado no Brasil. Em entrevista ao Varela Net, a jovem conta que passou a sair muito menos de casa logo ao descobrir que o novo coronavírus estava no país, em fevereiro, no estado de São Paulo.  

“Assim que chegou no Brasil, eu automaticamente fiquei preocupada com o fato de ter chegado em São Paulo porque tem muitos voos de lá para Salvador, então eu resolvi me restringir em casa por medo de pegar um vírus que, para mim, até então, era desconhecido, mas já estava matando pessoas. Resolvi ficar em casa e procurei ao máximo, como líder de sala, colocar o pessoal da faculdade no ensino remoto”, explica. 

A pandemia da Covid-19 afetou Brenda de maneira não saudável, e não é para menos. Quatro pessoas de sua família faleceram vítima do vírus. “Todos da família por parte do meu avô foram contaminados. Muita gente morreu, só ficou o sobrinho do meu avô. Foi uma perda muito grande. Isso aconteceu mais ou menos em julho”, conta Brenda.  

Além dessa parte da família, um tio ainda mais próximo de Brenda foi infectado pela Covid-19 há cerca de três meses e, assim como muitos, sofreu consequências da doença. Ele ficou com 70% do pulmão comprometido e, segundo a jovem, “teve muita dificuldade para sobreviver”. 

O medo do novo coronavírus foi tamanho, que a estudante, que trabalhava com eventos, precisou deixar o emprego de lado. 

Diante das situações cada vez piores e as notícias ainda mais preocupantes sobre as vítimas do vírus, Brenda passou a ter crises de ansiedade. Segundo ela, inicialmente, os sintomas foram mais leves, mas com o passar do tempo, tudo piorou.  

“Eu ficava tão ansiosa que eu não conseguia fazer nada. À noite eu tinha insônia, acabava não dormindo e passava o resto do dia cansada, e como tinha prazos da faculdade para cumprir, acabei passando maior parte do dia cansada, cochilava de tarde quando conseguia, isso quando não tinha outra crise de insônia. Acabei sendo vencida pelo cansaço”, relembra. 

O lockdown realizado pela estudante foi tão severo, que a jovem chegou a passar cada vez mais tempo no quarto, tendo menos contato com a família que morava em sua própria casa. 

“Além de me isolar na pandemia, externamente, me isolei dentro de casa também. (...) Parei de ter contato até mesmo com minha família, dentro de casa. Eu não saía de dentro do quarto, minha avó dizia que eu poderia ficar doente por ficar o tempo todo lá", revela. 

Superação 

Brenda, que até então pensava ter problemas psicológicos por conta da mudança de rotina, percebeu que, na verdade, o vírus e suas consequências eram os responsáveis por assolar a sua mente.

“Quando eu comecei a chorar com a ansiedade atacada, porque não conseguia dormir ou fazer nada, foi que eu percebi que o problema. Na verdade, não era eu, não era por estar fora da minha rotina, mas o que estava desencadeando todo aquele problema em mim eram as notícias dos jornais (...) Eu percebi que o aumento do número de casos e medo por meus familiares, fora os que eu já tinha perdido”, explica.

Brenda admite não ter procurado por ajuda psicológica, mas diz ter conseguido superar os problemas sozinha. “Comecei a aceitar e me contentar que, por mais que eu estivesse em casa, sem ver meus amigos ou tendo a rotina que eu tinha antes, eu estava bem, minha família estava em casa comigo”.  

Além disso, a estudante passou a ‘cortar’ toda e qualquer interação com notícias e informações sobre o coronavírus, mantendo apenas o isolamento social. “Passei a assistir coisas como Netflix, plataformas de streaming, para poder me tranquilizar. Cortei qualquer canal que a informação sobre a Covid pudesse chegar até a mim e passei a dormir melhor depois disso, passei a ficar mais tranquila", comenta. 

“Até hoje não sei exatamente quantas pessoas estão mortas pela Covid, porque sei que é uma coisa que me causa medo, então acaba atacando minha ansiedade", continua. 

Brenda passou oito meses sem sair de casa. Do início da pandemia, em março de 2020, até dezembro de 2021, a estudante pôs os pés nas ruas apenas cinco vezes, uma delas para ir ao hospital por ter apresentado reações físicas à ansiedade. A jovem passou a ter placas vermelhas e caroços no corpo, que faziam ela ter sensação de queimação quando a temperatura de seu corpo aumentava. 

A estudante voltou a trabalhar neste mês, no dia 2 de dezembro, quando ela finalmente desenvolveu coragem para voltar à sua rotina. 

Vacina

A chegada da vacina deixou um grande alívio para Brenda e sua família, mas o medo permanece por conta das pessoas que ainda não se imunizaram e que lutam contra a vacinação.

“Me sinto protegida por estar com a vacina, mas desprotegida por saber que muita gente não tomou essa vacina. O fato de saber que existe uma grande quantidade de gente que está pensando em Carnaval, Ano Novo, em fazer festas, esse tipo de coisa me preocupa bastante”, afirma.

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