Congresso reage à tarifa de Trump: base acusa boicote bolsonarista, oposição culpa Lula e STF por crise com os EUA
Deputados divergem sobre responsabilidade por tarifa de 50% imposta pelos EUA

Foto: Reprodução / Conselho Federal de Medicina
O anúncio do presidente norte-americano Donald Trump, que comunicou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, gerou forte repercussão no Congresso Nacional nesta quarta-feira (9). A justificativa de Trump incluiu críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à condução do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, classificado como “vergonha internacional”.
Parlamentares da base governista apontaram um possível boicote articulado pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente morando nos Estados Unidos. Já deputados da oposição responsabilizaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o STF pela crise diplomática e econômica.
Reações da base do governo
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou:
“O governo brasileiro não vai aceitar essa decisão do governo americano porque ela fere a soberania do Brasil, os acordos internacionais e, sobretudo, a democracia brasileira.”
Ele também citou a Lei 15.122/25, aprovada em abril como resposta a medidas anteriores dos EUA, que autoriza contramedidas econômicas.
O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) criticou duramente a medida de Trump:
“É uma coisa absurda, está nos tratando como sabujo dos americanos. O Brasil tem de reagir, não pode ficar de joelhos.”
Orlando Silva (PCdoB-SP) destacou o ataque às instituições brasileiras:
“Quem fica do lado da Nação vai defender a democracia, as urnas, as conquistas do nosso povo que elegeu Lula, a economia brasileira e quem produz.”
Guilherme Boulos (Psol-SP) alertou para o impacto sobre o mercado de trabalho:
“Essa taxa vai tirar empregos dos trabalhadores brasileiros para levar para os Estados Unidos.”
Ivan Valente (Psol-SP) ironizou:
“Cadê os capachos do imperador Trump depois da decretação de taxação de 50% sobre todos os produtos brasileiros? E a explicação não é econômica, é política.”
Joseildo Ramos (PT-BA) mencionou o impacto internacional do bloco dos BRICS:
“O bloco dos BRICS está incomodando o ‘delegado do mundo’.”
Segundo ele, a crítica de Trump ao bloco é motivada pela tentativa de substituir o dólar como moeda global.
Jandira Feghali (PCdoB-RJ) atacou diretamente Eduardo Bolsonaro:
“O bolsonarismo vai ser responsabilizado pela sociedade, por usar um correspondente lá fora, que é deputado, se diz patriota e faz contra o Brasil.”
Glauber Braga (Psol-RJ) reforçou:
“O senhor Eduardo Bolsonaro, que fugiu da responsabilização no Brasil e articulou esse tarifaço por lá, parece estar morando em uma mansão.”
Lindbergh Farias (PT-RJ) lembrou de pedido anterior de cassação do deputado:
“Na carta, as motivações econômicas entram no fim. Nunca tivemos uma corrente política como a extrema-direita bolsonarista que articula contra interesses nacionais.”
Críticas da oposição
Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou:
“Quer que tire a taxa do Brasil, está na mão de vocês. Comece a ter boa relação.”
O deputado associou a taxação a uma postura “sem diplomacia ou tato” do presidente Lula com os EUA.
Zé Trovão (PL-SC) endossou a crítica:
“As taxas de Trump têm a ver com a falta de responsabilidade diplomática do presidente Lula.”
Gilson Marques (Novo-SC) foi direto:
“O Trump, na carta onde ele estabelece o tarifaço de 50%, diz, literalmente, quem é o culpado dessa tarifa.”
Junio Amaral (PL-MG) relacionou a medida à atuação do STF:
“Esse anúncio de taxação de 50% ao Brasil é devido a essa postura antidemocrática e perseguidora [do Supremo Tribunal Federal], comparando o Brasil com países como Venezuela.”
Helio Lopes (PL-RJ) tentou isentar Eduardo Bolsonaro:
“Ele [Trump] foi bem específico: é o STF.”
Moção de louvor a Trump
Mais cedo, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara aprovou uma moção de louvor a Donald Trump (REQ 121/25), por iniciativa dos deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Gustavo Gayer (PL-GO) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP).
Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) afirmou:
“Foi uma ‘burrice’ a reação do presidente Lula ao ‘receber um alerta’ da maior potência mundial. Vocês não têm habilidade política internacional nenhuma. O governo está colhendo o que semeou, semeou no mundo alianças com terroristas.”
Declaração de Lula
Em rede social, o presidente Lula reafirmou que a medida será enfrentada com base na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso em abril:
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.”
Lula também contestou os dados apresentados por Trump sobre o comércio entre os dois países:
“As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos.”
A taxação unilateral imposta pelos EUA amplia o desgaste nas relações diplomáticas entre os dois países e acirra ainda mais os ânimos no Congresso, revelando uma divisão política profunda sobre a condução da política externa e a influência de figuras nacionais no cenário internacional.