Presidente do Peru, Dina Boluarte, é destituída pelo Congresso; líder do Parlamento assume interinamente
Processo de afastamento foi solicitado por 34 congressistas de diferentes partidos

Foto: Cris Bouroncle AFP
Na madrugada desta sexta-feira (10), o Congresso do Peru aprovou, por unanimidade, o afastamento da presidente Dina Boluarte sob a acusação de "incapacidade moral". A decisão ocorre em meio a denúncias de corrupção envolvendo a líder, como o caso conhecido como "Rolexgate", que investiga uma coleção de relógios de luxo não declarados.
Com a saída de Boluarte, quem assume a presidência de forma interina é o atual presidente do Congresso, José Jerí, que foi empossado logo após a votação em uma cerimônia oficial. Jerí, de 38 anos, é filiado ao partido conservador Somos Peru e se torna o sétimo presidente do país desde 2016.
O processo de afastamento foi solicitado por 34 congressistas de diferentes partidos, baseando-se em acusações graves de corrupção. Ainda na mesma noite, Jerí fez um discurso prometendo reconciliação nacional e combate ao crime organizado.
“O principal inimigo está lá fora, nas ruas: as gangues criminosas”, afirmou o novo presidente interino.
As próximas eleições presidenciais estão agendadas para abril de 2026, e Jerí afirmou que seu compromisso é manter a soberania do país e entregar o cargo ao vencedor do pleito. O mandato original de Boluarte terminaria em 28 de julho de 2026.
Clima nas ruas e reação de Boluarte
Após a votação, multidões se concentraram em frente ao Congresso, em Lima, e também nos arredores da embaixada do Equador onde surgiram especulações de que Boluarte poderia solicitar asilo. De acordo com a agência Associated Press, o ambiente era de celebração, com bandeiras, danças e música nas ruas.
Em pronunciamento após a decisão, Boluarte destacou os feitos de sua gestão e afirmou:
“Não pensei em mim mesma, mas nos peruanos”, declarou.
A ex-presidente, de 63 anos, chegou ao cargo em dezembro de 2022, após a destituição e prisão de Pedro Castillo, que tentou dissolver o Congresso. A queda de Castillo desencadeou uma onda de protestos, especialmente nas regiões andinas e entre comunidades indígenas. A repressão violenta a essas manifestações foi alvo de duras críticas por parte de organizações de direitos humanos.
Durante seu governo, Boluarte enfrentou forte rejeição popular. Sua taxa de aprovação oscilava entre 2% e 4%, e sua gestão foi marcada por denúncias de enriquecimento ilícito, incluindo o aumento do próprio salário em julho, o que intensificou o descontentamento social.
Nos três primeiros meses de sua administração, mais de 500 protestos foram registrados em diversas partes do país, a maioria exigindo sua renúncia.