Lula propõe cabos submarinos do BRICS e desafia hegemonia dos EUA na internet global
Plano quer garantir soberania digital entre países do bloco e pode reconfigurar estrutura da rede mundial

Presidente Lula, durante declaração à imprensa |Foto: Ricardo Stuckert / PR
Durante a 16ª cúpula do BRICS, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou uma proposta que pode impactar profundamente a estrutura da internet mundial. Em meio a um discurso voltado para o fortalecimento da política industrial entre países do Sul Global, Lula sugeriu a criação de cabos submarinos de internet que conectem diretamente os países do BRICS, sem passar pelos Estados Unidos.
Segundo o presidente, a iniciativa visa fortalecer a soberania digital dos países-membros e garantir mais segurança na troca de dados entre as nações do bloco. “Fazer um estudo de viabilidade para o estabelecimento de cabos submarinos ligando diretamente membros dos BRICS aumentará a velocidade, a segurança e a soberania na troca de dados”, afirmou. Ele ainda defendeu o papel do Estado no desenvolvimento de uma política industrial mais ativa: “Os novos desafios demandam um entendimento sobre política industrial que não restringe a ação estatal em prol do desenvolvimento”, disse.
A proposta provocou reações e levantou discussões sobre uma possível fragmentação da internet global. A criação de novas rotas digitais entre países fora da órbita ocidental pode acelerar uma divisão tecnológica com repercussões geopolíticas, comerciais e estratégicas. Especialistas apontam que a medida, se implementada, poderá remodelar a arquitetura da internet, abrindo espaço para redes independentes da influência dos EUA e seus aliados.
O papel dos cabos submarinos
Cabos submarinos são responsáveis pela transmissão de mais de 95% dos dados de internet e telefonia ao redor do mundo. Instalados sobre o relevo do fundo do mar, esses cabos ligam continentes e são considerados essenciais para o funcionamento das comunicações globais. Atualmente, o Brasil conta com 15 cabos submarinos em operação. A interrupção desses cabos pode comprometer gravemente o acesso à internet no país.
Quem faz parte do BRICS
O BRICS é formado por 11 membros permanentes: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Juntos, esses países representam 39% do PIB global, reúnem quase metade da população mundial (48,5%) e respondem por 23% do comércio internacional.
Além dos membros fixos, o grupo também conta com países parceiros como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia, Nigéria, Vietnã e Uzbequistão.
Se avançar, a proposta de Lula poderá marcar um novo capítulo na disputa pela soberania digital e reequilíbrio das potências tecnológicas.