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Fundação Cacique Cobra Coral suspende ações nos EUA e volta aos holofotes após caos climático

Entidade mística brasileira alega controlar o clima e rompeu com os EUA após tarifa de Trump

| Autor: Iarla Queiroz
Fundação Cacique Cobra Coral suspende ações nos EUA e volta aos holofotes após caos climático

Foto: Andrew Caballero Reynolds | AFP

Conhecida por suas ações espirituais em eventos climáticos extremos, a Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC) voltou a ser amplamente comentada nas redes sociais e na imprensa internacional. O motivo: a suspensão parcial da “assistência climática” que prestava gratuitamente aos Estados Unidos, em protesto à tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros.

O anúncio do rompimento veio no dia 9 de julho, e, desde então, os Estados Unidos enfrentam uma série de fenômenos meteorológicos severos. No Texas, chuvas históricas provocaram inundações que deixaram pelo menos 132 mortos e dezenas de desaparecidos. Em Washington, D.C., ventos violentos e alagamentos urbanos geraram alertas de tornado. Já estados do sul e centro do país registraram tempestades de granizo e uma das temporadas de tornados mais ativas desde 2011.

A coincidência entre a suspensão da atuação da fundação e a onda de desastres gerou curiosidade — e memes — nas redes sociais. Para a FCCC, porém, o corte nos serviços espirituais é simbólico e foi decidido com base no “princípio da reciprocidade”. A mensagem enviada ao ex-presidente norte-americano foi direta e enigmática:

“Receba, senhor presidente Donald Trump, nossa manifestação de paz espiritual.”

O que é a Fundação Cacique Cobra Coral?

Criada em 1931 e sediada em Guarulhos (SP), a Fundação Cacique Cobra Coral afirma ter como missão intervir em desequilíbrios da natureza causados pela ação humana. A entidade se apresenta como uma organização de atuação espiritual que, por meio da médium Adelaide Scritori, canaliza o espírito do Cacique Cobra Coral — figura que, segundo a fundação, teria reencarnado anteriormente como Galileu Galilei e Abraham Lincoln.

A origem da FCCC remonta a uma história mística: segundo a versão oficial, em uma noite de geada no norte do Paraná, uma mulher entrou em trabalho de parto enquanto plantações eram destruídas pelo frio. A criança nascida naquela noite, Adelaide, teria herdado dons mediúnicos e, aos sete anos, passou a receber mensagens espirituais em um centro espírita. O pai, Ângelo Scritori, fundou a entidade, que posteriormente ganhou força sob a liderança do genro, Osmar dos Santos.

Com o tempo, a fundação ampliou sua atuação para além do Brasil e firmou contratos com cidades e governos, incluindo parcerias oficiais para “evitar desastres naturais”. O escritor Paulo Coelho chegou a ocupar o cargo de vice-presidente da fundação entre 2004 e 2006.

Atuações no Brasil e no mundo
Ao longo das décadas, a FCCC afirma ter sido acionada para “interferir espiritualmente” no clima de grandes eventos:

  • No Brasil, a fundação diz ter ajudado a evitar chuvas no Rock in Rio e no Réveillon de Copacabana.
  • Na China, durante as Olimpíadas de Pequim em 2008, teria atuado para conter ventos em Hong Kong e permitir a realização das provas de hipismo.
  • Em Santa Catarina, firmou acordo em 1985 com o governo estadual para ajudar em emergências ligadas às enchentes.
  • Em 2023, fãs de Taylor Swift chegaram a cogitar acionar a entidade para evitar chuvas durante os shows da turnê da cantora no Brasil.

Relação com os Estados Unidos

A FCCC afirma atuar nos EUA desde o governo Ronald Reagan (1981–1989), com monitoramento da Falha de San Andreas, na Califórnia, e outras regiões de risco. Em 2013, foi procurada durante uma grande estiagem no Meio-Oeste, com o objetivo de “trazer chuvas” para a região — o que, segundo a fundação, de fato ocorreu. Na época, o alívio da seca coincidiu com uma queda significativa no preço da soja na Bolsa de Chicago.

A decisão de suspender 50% da assistência climática atinge empresas e estados como Califórnia, Nova Iorque, Chicago, Flórida e o Meio-Oeste americano. A entidade afirma atuar atualmente em 16 países e 3 continentes.

Essa não é a primeira vez que a FCCC corta relações com os EUA. Em 2017, a fundação já havia anunciado a suspensão dos trabalhos após Trump retirar o país do Acordo de Paris, tratado global firmado em 2015 para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

Ciência versus espiritualidade

Apesar de ser vista com ceticismo por parte da comunidade científica, a FCCC segue ganhando projeção pública sempre que há coincidência entre suas decisões e fenômenos climáticos extremos. Especialistas atribuem os eventos recentes a padrões atmosféricos típicos do verão no Hemisfério Norte, mas a sobreposição de datas entre o tarifaço, o rompimento e os desastres climáticos reascendeu o debate sobre os limites entre misticismo, crença e ciência.

Seja como coincidência ou não, a Fundação Cacique Cobra Coral voltou a ocupar espaço no noticiário — e reacendeu o fascínio de muitos pela ideia de que forças espirituais podem, de fato, controlar o clima.

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