NotíciasExclusivasContaminação por metanol; relembre a tragédia da Bahia em 1990, suas causas e formas de prevenção

Contaminação por metanol; relembre a tragédia da Bahia em 1990, suas causas e formas de prevenção

Após aumento de registros em 2025, autoridades reforçam alerta sobre bebidas adulteradas

| Autor: Bruno Oliveira
Contaminação por metanol; relembre a tragédia da Bahia em 1990, suas causas e formas de prevenção

Foto: Ilustrativa Freepik

O aumento recente de casos de contaminação por metanol em diferentes regiões do país reacendeu o alerta das autoridades de saúde em 2025. Embora o tema pareça novo para parte da população, o Brasil já enfrentou episódios graves de intoxicação por essa substância, especialmente na Bahia, durante a década de 1990, quando dezenas de pessoas morreram após consumir bebidas alcoólicas adulteradas.

Histórico de casos no Brasil

Nos anos 1990, o estado da Bahia viveu um dos episódios mais graves de intoxicação por metanol no país. Estimativas apontam que, apenas naquele período, ao menos 50 mortes foram associadas ao consumo de cachaça contaminada na região do Recôncavo baiano. As bebidas eram produzidas de forma clandestina e comercializadas sem qualquer controle sanitário, revelando a gravidade do problema e os riscos da adulteração de bebidas alcoólicas no mercado informal.

O que é o metanol e por que ele é perigoso

O metanol é um tipo de álcool amplamente utilizado na indústria, em produtos como solventes, combustíveis e agentes de limpeza. Diferente do etanol, sendo o álcool próprio para o consumo humano, o metanol é altamente tóxico e não deve ser ingerido em hipótese alguma.

Após ingerido, ele é metabolizado no fígado e se transforma em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que provocam acidose metabólica, lesões no nervo óptico e, nos casos mais graves, falência de órgãos vitais. Mesmo pequenas quantidades podem causar danos irreversíveis ou levar à morte.

Como ocorre a contaminação

Os surtos de intoxicação por metanol estão quase sempre relacionados à adulteração de bebidas alcoólicas vendidas ilegalmente. Produtores clandestinos adicionam a substância para aumentar o teor alcoólico ou reduzir custos, sem qualquer controle de qualidade. Também há registros de contaminação acidental, quando o metanol é confundido com o etanol durante o processo de envase ou quando recipientes reutilizados estão contaminados.

A venda irregular, a fiscalização insuficiente e o consumo de bebidas de origem duvidosa contribuem diretamente para a ocorrência desses episódios.

Sintomas de intoxicação

Os sinais de intoxicação por metanol costumam surgir entre 12 e 24 horas após a ingestão, dependendo da quantidade consumida. No início, a pessoa pode sentir dor de cabeça, tontura, náusea, vômito e um mal-estar geral que, muitas vezes, é confundido com os efeitos de uma ressaca comum. Com o avanço do quadro, aparecem alterações visuais, como visão turva e a presença de pontos cegos, que podem evoluir para cegueira permanente. Em situações mais graves, o indivíduo pode apresentar confusão mental, dificuldade para respirar, convulsões e até mesmo evoluir para o óbito.

Tratamento e antídotos

O tratamento da intoxicação por metanol deve ser realizado com urgência em ambiente hospitalar. O primeiro passo é interromper o processo de transformação do metanol em substâncias tóxicas dentro do organismo. Para isso, utiliza-se o medicamento fomepizol, que bloqueia a ação da enzima responsável por essa metabolização.

Quando o antídoto não está disponível, o etanol pode ser administrado como alternativa, pois atua competindo com o mesmo mecanismo enzimático, retardando a formação dos compostos tóxicos. Em casos mais graves, pode ser necessária a hemodiálise, para eliminar o metanol e seus metabólitos do sangue, corrigir a acidose e estabilizar o paciente. Também é comum o uso de bicarbonato de sódio e de ácido fólico ou folínico, que auxiliam o corpo a eliminar o ácido fórmico.

Atualmente, não existe vacina contra a intoxicação por metanol, já que se trata de uma intoxicação química aguda e não de uma infecção.

Como se prevenir

A melhor forma de prevenção é evitar o consumo de bebidas de origem duvidosa. O ideal é sempre verificar se o produto possui rótulo, lacre original e selo de fiscalização, além de desconfiar de preços muito abaixo do valor de mercado ou de garrafas sem identificação. A compra em locais de confiança é essencial para reduzir o risco de contaminação.

As autoridades reforçam que a fiscalização na produção e no comércio de bebidas precisa ser constante e rigorosa, e que campanhas educativas são fundamentais para alertar a população sobre os perigos do consumo irregular. A conscientização é a principal arma para evitar novos surtos de intoxicação e preservar vidas.

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