Ameaças, agressões, torturas e morte; relembre ataques a jornalistas durante seu trabalho
Caso Rildo de Jesus levantou memórias ingratas para o jornalismo

Foto: Maitê Berna / Ponte Jornalismo
Durante cobertura no bairro Chapada do Rio Vermelho, em Salvador, na manhã do dia 11 de agosto de 2025, o repórter Rildo de Jesus, TV Bahia, precisou se retirar imediatamente do local após ser ameaçado. Trabalhando para o programa “Bahia Meio Dia”, o jornalista evidenciava todos os estragos causados por um tiroteio ocorrido ali no dia anterior. Apesar do choque, essa não foi a primeira vez que um trabalhador é coagido durante reportagens.
Ainda durante o “Ao vivo”, Rildo explicou que, apesar de utilizar um colete a prova de balas, preferiu sair do complexo do Nordeste de Amaralina após ameaças. "Fui ameaçado ali agora por cerca de quatro homens que apareceram ali naquela rua, apesar da gente estar usando colete à prova de balas e do policiamento na região estar bastante intensificado, por questões de segurança, a gente vai deixar a região aqui da chapada”, disse.
Em resposta ao caso, a TV Bahia, afiliada do grupo Globo, demonstrou sua indignação e apoio ao seu funcionário.
“Durante a entrada no Bahia Meio Dia, um homem armado, ainda não identificado, ordenou que ele deixasse o local. Para preservar sua integridade, Rildo deixou a área e narrou o ocorrido em movimento. Ele está bem e recebeu, no estúdio, o apoio dos apresentadores Vanderson Nascimento e Andrea Silva.
É inadmissível que profissionais da imprensa sejam alvo de intimidações, agressões ou qualquer forma de cerceamento ao exercício de sua função, essencial para a liberdade de expressão e o direito à informação da sociedade.
A TV Bahia reafirma seu total apoio a Rildo e rechaça qualquer tentativa de silenciar ou coagir comunicadores. Seguimos firmes no compromisso com a verdade, a ética e o respeito à vida", respondeu à TV Bahia em nota oficial.
O choque e a indignação da empresa não é por acaso. Ao longo da história do jornalismo, diversos repórteres, câmeras, ou até mesmo convidados, foram agredidos durante seu trabalho. No caso de Rildo, uma tragédia maior só não aconteceu graças a agilidade dele em respeitar a ordem e deixar o local da pauta definida.
Repórter da Record agredido em matéria sobre acidente
Na manhã do dia 25 de julho de 2025, uma equipe da Record Bahia foi agredida durante cobertura sobre um acidente ocorrido na Av Garibaldi, em Salvador. O repórter Mateus Borges e o cinegrafista Tarcísio Lima foram agredidos verbalmente e fisicamente, através de socos. O suspeito, que aparece nas imagens, seria o marido da mulher que dirigia uma motocicleta envolvida no acidente.
Jornalistas agredidos com socos durante reportagem em Salvador
Em janeiro de 2023, uma equipe da Record Bahia foi agredida após realizar uma matéria sobre a morte de um motociclista na Avenida Orlando Gomes, no Bairro da Paz, em Salvador. A então repórter da TV Record e atualmente na TV Bahia, Tarsilla Alvarindo chegou a ser agredida fisicamente por dois homens ali presentes.
“Entramos de longe, falei que tinha acontecido um acidente e que uma pessoa foi a óbito, um homem apenas. Não dei nome, não mostrei rosto de ninguém e, quando já tinha terminado, estava por sair do local, dois homens abordaram nossa equipe e um deles me deu um soco no rosto", afirmou a jornalista.
Na tentativa de defender sua companheira de trabalho, o cinegrafista George Luís confrontou os agressores, e os afastou. A assessoria da TV Record também se pronunciou sobre o caso e afirma que o Jornalismo deve ser respeitado.
"Para haver jornalismo sério e comprometido é preciso ter a imprensa respeitada no seu direito de informar e prestar serviço à população", disse em nota oficial.
Repórter do SBT agredido após cobrir prisão de Oruam
Bruno Oliveira, repórter do SBT, foi agredido enquanto cobria as manifestações contra a prisão do rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, mais conhecido como Oruam. O jornalista levou dois tapas na cabeça e, como foi filmado, o vídeo rapidamente viralizou nas redes sociais.
Em suas redes sociais, Bruno falou sobre seu sentimento no momento e reforçou sua indignação.
“Foi algo realmente absurdo e inadmissível. O que a imprensa passou aqui na delegacia da Barra da Tijuca é algo que nenhum jornalista deveria passar. Como todos sabem, eu vim de comunidade, lutei muito para chegar onde eu tô e ser agredido por criminosos que acabaram se infiltrando no meio dessa manifestação”, disse.
Rogério de Paula agredido por apoiadores de Jair Bolsonaro
Em cobertura realizada próximo ao segundo turno das eleições de 2022, o repórter cinematográfico, Rogério de Paula, da Inter TV, afiliada da Globo, foi agredido por apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-deputado federal Roberto Jefferson.
As agressões foram tantas que jornalista chegou a cair no chão e bater a cabeça. Na época, Rogério tinha feito uma recente cirurgia no local e, ao se chocar com chão, teve um princípio de convulsão.
Após o ocorrido, o repórter foi levado ao hospital e ficou em observação até sua recuperação. Posteriormente, ele viria a se pronunciar e explicou o que teria acontecido.
"Nós fizemos todos os nossos protocolos, de não ficar muito perto das pessoas, nos afastamos, só que, não deu tempo. Saímos de lá, mas quando a gente virou de costas, fomos agredidos. Como nós viramos de costas, eu senti um empurrão por trás e um soco na câmera. A câmera bateu na minha cabeça, eu fiquei um pouco zonzo e caí", disse Rogério.
Repórter da Globo é agredido e tem prejuízo com equipamento
João Vítor Brum, da Inter TV, Afiliada da TV Globo, foi agredido enquanto cobria o desaparecimento do jovem Pedro Lucas Rodrigues de Oliveira, de 18 anos, no dia 15 de janeiro de 2024. Segundo relatos, o jornalista foi hostilizado por amigos da vítima, que não só o agrediram, como jogaram seu equipamento na lagoa.
Em nota, a Inter TV explicou o ocorrido “Enquanto estava ali a trabalho, João Vítor Brum foi agredido covardemente por um suposto amigo do jovem desaparecido, que não apenas o atacou fisicamente, mas também danificou seu equipamento, jogando-o na lagoa. É inaceitável que um jornalista, que busca levar informações importantes à sociedade, seja vítima de tamanha violência”, explicou.
Indignado, João agradeceu a família de Pedro pela recepção e afirma que ela não compactua com o ocorrido.
“O foco sempre foi no jornalismo e que assim continue. Meu respeito total à família do jovem desaparecido, que não teve nada a ver com essa situação e foi, do início ao fim, extremamente educada e receptiva comigo, mesmo em um momento tão difícil para eles. Nossa intenção sempre será de ajudar”, disse João.
Tim Lopes torturado por traficantes na Vila Cruzeiro
Talvez o caso mais famoso em jornalistas sendo agredidos enquanto realizavam seu trabalho, o caso de Tim Lopes repercute até os dias atuais. Conhecido como um grande jornalista investigativo e respeitado pelo seu trabalho, a vida de Tim chegou em um ponto final no dia 02 de junho de 2002, com seus então 52 anos, onde foi dado como desaparecido. Tudo começou quando o jornalista decidiu ir até a Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, fazer uma reportagem após receber denúncias de moradores sobre menores que se prostituíam e usavam drogas em bailes na comunidade.
Não seria a primeira reportagem desse modo para Tim, mas acabou se tornando a última. Em diversas outras ocasiões, ele ia disfarçado para os locais, onde vivia como um morador para descobrir e denunciar detalhes.
No entanto, dessa vez, tudo saiu errado para o então jornalista da TV Globo. Segundo depoimentos de testemunhas, Tim foi torturado, julgado e executado por traficantes. Ele foi descoberto após uma criança ter visto uma luz sair da cintura do apresentador, onde prontamente foi denunciado aos traficantes.
Apesar da hostilidade, Tim Lopes foi levado até Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, que faria o seu julgamento junto a outros criminosos. De nada adiantou e no dia 07 de junho de 2002, a polícia do Rio de Janeiro confirmou a morte do Jornalista.
Foi somente no dia 05 de julho de 2002 que seus restos mortais foram encontrados. O enterro aconteceu dois dias depois, no dia 07. Elias Maluco foi condenado a 28 anos e 6 meses de prisão pelo crime bárbaro.