A Fábrica parou de produzir talentos?
Vitória é a única equipe que ainda não utilizou jogadores da base no Brasileirão 2025

Equipe Sub-17 do Vitória, campeã do Torneio Canteras de América |Foto: Divulgação/Newellscup
Conhecida por suas grandes revelações, como Bebeto, Dida, Vampeta, Hulk e David Luiz, a base do Vitória se consolidou historicamente como uma das melhores do país e destaque do Norte-Nordeste. Apesar disso, o Leão da Barra é o único clube que ainda não utilizou jogadores da base na Série A do Campeonato Brasileiro em 2025, decisão explicada pelo treinador Thiago Carpini.
“Aquela base que revelou craques para o mundo não existe mais [...] Aquela força da formação precisa e deve voltar porque a Bahia revela muitos jogadores e o Vitória é conhecido mundialmente pela sua formação, mas no momento não temos jogadores lá que vão resolver nossos problemas", afirmou o técnico do Vitória após a derrota por 1 a 0 contra o Santos, pela 10ª rodada do Brasileirão.
Carpini também destacou os atletas da base utilizados por ele em 2024 e no início da temporada, explicando o motivo de não dar continuidade a esses jovens jogadores.
“Eu fiz muitas experiências, mas quem sustentou? Quem deixou saudade da base que ganhou oportunidade de jogar? Não é culpa de quem está lá, é o processo. Se aqui está difícil a transição, imagina na base. [...] A gente precisa ter também o merecimento para oportunizar a base. Hoje não temos atletas para isso”, declarou o treinador do Vitória.
Carpini oportunizou quatro atletas vindos da base na Série A do ano passado: Lawan, que entrou em quatro jogos e atuou por 103 minutos; Fábio Soares, em campo em três jogos e somando ao todo 87 minutos; Luís Miguel, que fez apenas uma partida e jogou 14 minutos; e José Breno, que só foi aproveitado por 9 minutos de um único jogo. Nenhum deles teve sequência no time principal em 2025.
A mensagem que o treinador deixa, seja nas entrevistas coletivas, seja no campo, é de que a formação do Vitória esteve defasada nos últimos anos, de modo que não é possível aproveitar os atletas no elenco principal atualmente.
O declínio
Em entrevista coletiva concedida no dia 30 de maio, Fábio Mota - presidente do Vitória - confirmou as declarações de Thiago Carpini sobre as condições de precariedade que a base do Vitória se encontrava no início do seu mandato, em 2022. “Quando nós chegamos no Vitória, o pessoal da base não tinha nem alimentos, não tinha nem comida para comer.”, declarou Fábio Mota.
Para que seus atletas consigam desempenhar bem dentro de campo, um clube de futebol precisa oferecer condições estruturais básicas em todas as etapas, mas principalmente nas categorias de base, onde crianças e adolescentes têm sua formação para chegarem à fase adulta e se tornarem atletas profissionais. Quando não há estrutura e suporte suficientes, é evidente que a formação será comprometida, assim como os resultados em campo.
É nessa linha que o Vitória está desde 2018 sem vencer o Campeonato Baiano Sub-20 e desde 2021 sem disputar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro da categoria, ao qual já chegou à final duas vezes em seis participações. Os insucessos esportivos coincidem com o período em que o clube perdeu o Certificado de Clube Formador (CCF) duas vezes; a primeira, em 2019, recuperando em 2021; a segunda, em 2023, recuperando agora em 2025.
Além de mostrar que o clube cumpre os requisitos para formar atletas da maneira mais adequada possível, o Certificado ainda garante os direitos do clube que investe na formação de atletas para proteger seus jogadores. Basicamente, o CCF garante ao clube formador o direito de assinar o primeiro contrato profissional com o jogador e o direito de preferência na renovação, além de compensações financeiras em transferências.
Todas essas complicações também coincidem com um dos piores períodos administrativos e esportivos da história do clube no âmbito profissional, que começou com a queda da primeira divisão em 2018 e culminou no rebaixamento à Série C em 2021. As sucessivas perdas esportivas também geraram perdas financeiras, que - aliadas a más gestões - desencadearam um efeito dominó que prejudicou todas as esferas do clube, incluindo a base.
Para muitos, era impensável ver um clube que formou jogadores de seleção brasileira viver um período tão amargo nas suas categorias de base. O Vitória foi de vencer a Copa do Brasil em três categorias em um período de cinco anos (Sub-15 em 2010, Sub-20 em 2012 e Sub-17 em 2015), a viver um jejum de seis edições sem conquistar o Campeonato Baiano.
O time perdeu força no mercado na mesma medida que perdeu sua capacidade de formar jogadores, ou seja, trazer jogadores qualificados se tornou uma missão tão difícil quanto subir jogadores da base com potencial para ajudar o clube dentro de campo e gerar lucro para movimentar os cofres do clube.
“O futuro do Vitória está na base”
É pelas mãos da atual gestão que, aos poucos, o clube recupera a autoestima e o prestígio que um dia teve, seja no futebol profissional ou na base. Em 3 anos, o clube desafiou o impossível e saiu da Série C, reconquistou sua autoestima vencendo a Série B e reafirmou sua posição na elite do futebol brasileiro ao permanecer na primeira divisão e garantir vaga para a Copa Sul-Americana deste ano.
Assim como os insucessos da equipe profissional desmantelaram o clube em todas as suas esferas, as retomadas e vitórias do time principal foram fundamentais para reestabelecer padrões de qualidade básicos nas categorias de formação. O presidente Fábio Mota destaca os processos implementados na base para potencializar o desempenho e a formação de atletas.
“Nós reformulamos toda a base, tanto da parte física como do campo, como de fisiologia, fisioterapia, médico. A base do Vitória hoje está no nível da base dos grandes clubes do Brasil.”, declara o presidente do clube.
Além disso, o gestor rubro-negro projetou suas expectativas sobre o futuro da base do clube. “Sem sombra de dúvidas, daqui a dois, três anos a gente volta a ter aquela base forte, pelo menos 50% dos jogadores da base [no time principal]. Não dá para competir com outras equipes se não tiver base forte.”, explica Fábio Mota.
Apesar de os atletas da base não terem sido bem aproveitados na equipe profissional nos últimos anos, Fábio Mota avalia que o Vitória tem grandes promessas e que já estão dando retorno esportivo na base.
Em 2025, a equipe Sub-20 conquistou o acesso para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro da categoria e disputará o título da competição contra o Avaí, além de fazer a melhor campanha do Baianão Sub-20 até o momento. Acompanhando a boa fase, a equipe Sub-17 foi campeã do Torneio Canteras de América, competição internacional disputada na Argentina, vencendo o Palmeiras na final.