NotíciasEntretenimentoEntenda o motivo de tantas novas ‘cinebiografias’ estarem surgindo

Entenda o motivo de tantas novas ‘cinebiografias’ estarem surgindo

O VarelaNet conversou com a cineasta Tainá Mineiro

| Autor: Vítor Lyrio
Fernanda Torres interpretando Eunice Paiva

Fernanda Torres interpretando Eunice Paiva |Foto: Divulgação

Nos últimos anos, as cinebiografias, ou biopics, têm experimentado um aumento significativo na produção global, conquistando tanto o público quanto a crítica. Filmes que retratam a vida de figuras históricas, artistas, atletas e ativistas, como Ainda Estou Aqui (2024), sobre a advogada e ativista Eunice Paiva, tornaram-se um gênero de destaque, impulsionados por sucessos de bilheteria e premiações. Produções como Bohemian Rhapsody (2018), sobre Freddie Mercury, e Oppenheimer (2023), sobre J. Robert Oppenheimer, exemplificam o apelo dessas histórias, que combinam drama, emoção e um mergulho em trajetórias humanas marcantes. O crescimento reflete uma demanda por narrativas que conectem o espectador à realidade, mesmo que com toques de licença poética.


O interesse por cinebiografias não é novo, mas a escala atual é notável. Dados da Motion Picture Association indicam que, entre 2015 e 2023, a produção de biopics cresceu cerca de 30% em Hollywood, com tendência semelhante em mercados como Europa e América Latina. No Brasil, filmes como Ainda Estou Aqui, que retrata a luta de Eunice Paiva contra a ditadura militar após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, e Hebe: A Estrela do Brasil (2019) mostram o potencial de histórias locais. Plataformas de streaming, como Netflix e Amazon Prime, investem pesado no gênero, com títulos como The Crown e Blonde, ampliando o alcance de cinebiografias para figuras menos conhecidas.

Em conversa exclusiva com o VarelaNet, a cineasta Tainá Mineiro comentou sobre o aumento na produção e investimento deste gênero cinematográfico, principalmente no cinema brasileiro, onde cada vez mais filmes contando histórias de diferentes figuras importantes para o Brasil. "O crescente interesse em produzir filmes nesse formato está diretamente relacionado ao desejo de resgatar e valorizar a memória de figuras importantes, além do retorno positivo que essas produções têm gerado. No caso do cinema brasileiro, que enfrenta desafios para se manter em cartaz, especialmente diante da concorrência com grandes produções estrangeiras, esse tipo de filme tem conquistado o público e recebido uma recepção favorável.", afirmou a cineasta 
 
Um dos motivos para o sucesso das cinebiografias é a capacidade de humanizar ícones, revelando suas lutas, fraquezas e conquistas. Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro como Eunice Paiva em diferentes fases da vida, exemplifica isso ao mostrar a resiliência de uma mulher que enfrentou a repressão para buscar justiça. O gênero atrai grandes talentos, tanto na atuação quanto na direção, interessados em projetos com potencial de impacto emocional e reconhecimento em premiações, como o Oscar, no qual Ainda Estou Aqui foi indicado em 2025. Contudo, o gênero enfrenta críticas por, às vezes, romantizar ou simplificar fatos históricos, gerando debates sobre fidelidade e ética.

O mercado também reflete uma diversificação nas escolhas de protagonistas. Enquanto no passado as cinebiografias focavam majoritariamente em figuras masculinas ou líderes políticos, hoje há um esforço para destacar mulheres, minorias e personalidades de áreas menos exploradas, como ciência e ativismo. Ainda Estou Aqui destaca Eunice Paiva como símbolo da luta pelos direitos humanos e indígenas no Brasil, enquanto filmes como Hidden Figures (2016), sobre matemáticas negras da NASA, ampliam o espectro do gênero. No Brasil, a cinebiografia de figuras como Zezé di Camargo e Luciano (2 Filhos de Francisco, 2005) abriu portas para histórias regionais que ressoam com o público local.

"Exemplos como "Ainda Estou Aqui" mostram como essas narrativas despertam interesse e envolvimento, não apenas por preservar a história e reforçar legados, mas também por fortalecer a presença do cinema nacional nas salas de exibição. Assim, a combinação entre impacto cultural e viabilidade comercial contribui para que mais filmes sigam esse estilo, garantindo espaço para produções que celebram a memória e identidade brasileira.", completou Tainá
 
Apesar do crescimento, desafios persistem. A necessidade de equilibrar entretenimento e precisão histórica frequentemente coloca diretores e roteiristas em uma corda bamba. Ainda Estou Aqui, por exemplo, adapta o livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva com algumas liberdades poéticas, mas mantém a essência da luta de Eunice, conforme relatos da família. A saturação do mercado pode levar a uma fadiga do público, especialmente quando fórmulas narrativas se repetem. Ainda assim, o futuro das cinebiografias parece promissor, com projetos anunciados que estão prestes a ser lançados, como por exemplo, o filme de Michael Jackson, que está previsto para 2026

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