NotíciasEntretenimentoConheça o projeto "Cinematógrafo" que desafia o circuito comercial do cinema

Conheça o projeto "Cinematógrafo" que desafia o circuito comercial do cinema

O projeto nasceu no Rio Vermelho e aposta no desenvolvimento da formação sensível e crítica dos espectadores

| Autor: Helena Pamponet

Foto: Reprodução/Cinematógrafo

A galeria Casa 149 já abrigou muitos projetos, partindo de mostras de arte e indo até cinema underground. Um deles completa sete anos neste mês de dezembro. Trata-se do Cinematógrafo (@cinematografo_ssa), idealizado pelos cineastas Fabrício Ramos e Camele Queiroz, e conta com um projeto contrário ao cinema comercial. 

Numa galeria desativada, em pleno Rio Vermelho, o projeto abriu em 2016 com uma mostra da produção mexicana “Güeros”, do diretor Alonso Ruiz Palacios, para a quantidade de 20 pessoas, que é minúscula em comparação à grande comunidade de pelo menos 200 pessoas por mês.  

O projeto surge como um movimento contrário ao circuito mercadológico do cinema popular, e promove a discussão de filmes de valor cultural e que elevem o cinema para esse lugar de pensamento, crítica e reflexões, é isso que nos orienta.”
 
O co-idealizador ainda aponta que o contexto temporal também entra em consideração quando ele e Mel escolhem o filme que será exibido, como foi o caso de “O Carteiro e o Poeta”, escolhido em setembro para comemorar a vida do  a partir do que Camele ou Mel (apelido usado pela cineasta) chama de experiência sensitiva. De acordo com os dois idealizadores, é uma maneira de estreitar e revitalizar a relação entre os espectadores e o cinema. 

O critério de escolha de acordo com Fabrício, é baseado em:

“Filmes que permaneçam conosco, tenham um poeta Pablo Neruda e trazer à tona a lembrança do início da ditadura Chilena, em 1973. 

O Contexto é Importante

"Antes do filme tem uma conversa que contextualiza o filme naquele espaço e tempo", comentou o advogado Lucas Brito, que compareceu à sessão Cinematógrafo e conheceu o projeto por indicação do instagram Matinê Baiana. "Achei isso interessantíssimo, porque como muitas vezes são filmes mais antigos, o espaço em que o filme foi produzido é extremamente importante." 

Fabrício diz que a contextualização do filme é um desafio, pois “apresentar o filme sem dirigir o olhar do público e sem dar spoiler” é algo que requer muito cuidado, porque o “filme é sempre o resultado de uma subjetividade autoral misturado com um cenário social, ele muitas vezes retrata muito mais do que a gente vê superficialmente ou de maneira imediata”.

Para quem conhece o projeto por cima, é possível pensar que o Cinematógrafo tem um teor elitizado, priorizando filmes "clássicos" e excluindo quem não entende sua importância para o cinema artístico, mas não seria a verdade. 

Em entrevista exclusiva para a repórter Helena Pamponet do Varela Net e Matinê Baiana, Fabrício e Mel contaram um pouco sobre como a conversa funciona e garantem que cada experiência é válida e todos os integrantes são convidados e incentivados a compartilhar sua opinião. 

Um Convite à Todos

“A gente faz depois uma roda de conversa no pátio, bebendo uma cervejinha ou um café, e a conversa é aberta”. A discussão sempre é moderada por Fabrício e Mel, que valorizam e assumem que até provocam a divergência, que ao final se converte em “diversidade de olhares”

Camele comenta que o respeito entre os participantes é essencial para que a conversa continue de forma produtiva, independentemente da possibilidade de os participantes discordarem uns dos outros.
 

Reprodução/Cinematógrafo

Os criadores também comentam que o Cinematógrafo é um “anti clube de cinema”, no sentido que ao invés de juntar uma platéia que já é cinéfila - como são chamados os amantes do cinema -, o projeto expande para uma lógica de construção da audiência. 

Mel conta sobre a diversidade de repertórios do público do cinematógrafo: “ao ponto de acontecerem sessões que uma pessoa sai chorando, muito comovida e tocada por uma determinada experiência que ela teve no cinema, e na mesma sessão saí uma pessoa que fala ‘Ah, não entendi nada, vocês só botam esses filmes malucos’”. 

Mas o projeto cativa os visitantes, e a iniciativa de “Formação Sensível”, como os criadores chamam a formação de um arsenal emocional e cultural que permite que a comunidade do cinematógrafo lide com experiências da vida com mais apoio. 

As sessões do Cinematógrafo, a principal e muitas outras, acontecem todo último sábado do mês, sempre no cinema do Museu no Corredor da Vitória às 16h da tarde, e os ingressos podem ser adquiridos a partir do número (71) 99914-6177.
 

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