NotíciasCidadeTrabalhadores baianos afirmam também ter sido vítimas de trabalho escravo no RS

Trabalhadores baianos afirmam também ter sido vítimas de trabalho escravo no RS

Grupo fugiu da cidade de Bento Gonçalves, a mesma em que os trabalhadores foram resgatados no dia 24 de fevereiro

| Autor: Redação

Foto: Divulgação

Um grupo de trabalhadores baianos alega que também prestou serviço em situação análoga a de escravo em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, assim como os 198 baianos resgatados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), no dia 24 de fevereiro.

De acordo com o g1, o escritório Daniel Cruz Jr Advogados, que representa o grupo formado por 14 homens, afirma que os trabalhadores estiveram no Sul entre os meses de agosto e novembro de 2022, com o objetivo de atuar na colheita de uvas e abate de frangos. Porém, conseguiram fugir para a Bahia entre janeiro e fevereiro deste ano, antes mesmo da ação policial que resultou no resgate dos trabalhadores.

Ainda segundo detalhou o advogado Daniel Cruz, três empresas estão envolvidas no caso. Uma delas é a mesma onde os trabalhadores foram resgatados.

Nesta quinta (2), o advogado foi com as vítimas até a sede do Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) para que eles sejam incluídos na negociação entre as empresas envolvidas no caso. No órgão, eles foram orientados a registrar queixas individuais no site do MPT-BA e também na Polícia Federal.

"Eles sabiam que estavam sendo maltratados, mas não tinham condições financeiras para ir embora. Quando pediam demissão, eram cobradas dívidas de alimentação e transporte, por exemplo. Era uma dívida eterna, porque quanto mais tempo ficavam, mais gastos eram acumulados", explicou o advogado.

O advogado Alberto da Silva Purificação, que também representa as vítimas no caso, reforçou que existem provas de que, assim como os outros baianos, os homens trabalharam no local e foram submetidos a trabalho similar ao escravo.

"Existe a carteira profissional digital, que não foi dada baixa, além de vídeos deles trabalhando no local", afirmou.

Na quarta-feira (1º), a Defensoria Pública da União (DPU), a Superintendência Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia pediram que outros três baianos, que não fazem parte deste grupo de 14 pessoas, fossem incluídos no processo. Eles também fugiram do local antes do resgate.

O que dizem as vítimas

"Arrancaram minha unha porque eu disse que não ia trabalhar. A gente chegava [no alojamento] 17h e às 21h tínhamos que trabalhar de novo. Eles diziam que se não trabalhássemos de noite, iríamos apanhar", desabafou Paulo Sérgio Rodrigues, de 53 anos.

As ameaças e agressões se repetem nos relatos. Cláudio Nascimento da Silva, de 33 anos, precisou ser atendido por um médico após ser espancado no alojamento da empresa. A agressão aconteceu após ele ter uma crise de asma e se recusar a trabalhar.

"Eu disse que não estava em condições de trabalhar, me levaram para um quartinho e me espancaram. Me deram murros, bicudas e chutes", contou.

O trabalhador foi levado até uma unidade de saúde da cidade por um colega de alojamento. Na ocasião, ele não registrou ocorrência na delegacia.

Além das agressões e ameaças, os trabalhadores sofriam abusos financeiros. A consequência de quem não trabalhasse durante a noite, por exemplo, era de um desconto de mais de R$ 500 no salário, conforme contou Paulo Sérgio.

Todos os 14 trabalhadores baianos fugiram do local com ajuda financeira da família ou de amigos e pegaram diversos ônibus até finalmente chegaram na Bahia.

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