NotíciasCidadeReajuste no preço do gás deixa comerciantes de Salvador com as 'mãos na cabeça'

Reajuste no preço do gás deixa comerciantes de Salvador com as 'mãos na cabeça'

Com o novo aumento, o botijão pode sair por até R$ 120 nas revendedoras da capital baiana

| Autor: Cássio Moreira

Foto: Domingos Junior/Varela Net

O gás de cozinha (GLP) amanheceu mais caro na Bahia, nesta quinta-feira (3). A Refinaria de Mataripe, que recentemente foi comprada pelo fundo árabe Mubadala Investment Company, anunciou um novo reajuste no valor do produto. Segundo o Sindicato dos Revendores de Gás da Bahia, o botijão de 13 quilos pode chegar a até R$ 120.

Mas o aumento do preço não deve atingir apenas o bolso das família baianas. Os vendedores de comida também serão diretamente impactados com o reajuste. A maioria deles afirma que foi pego de surpresa com a notícia do reajuste.

É o caso de Maria do Carmo, de 48 anos. A venda de quentinhas se tornou a saída para sobreviver durante a pandemia da Covid-19. Moradora de Plataforma, a comerciante, que trabalha na área há 1 ano e 7 meses com o comércio de refeições, disse que costuma comprar dois botijões de gás por mês para suprir a demanda. Ela admite que o novo reajuste vai diminuir o seu lucro, já que não pretende repassar, por enquanto, o valor para seus clientes. As quentinhas que ela vende custam, em média, R$ 15. 

"A ideia veio de uma hora para outra, em plena pandemia. Eu preciso sobreviver, e aí comecei e foi dando certo", contou a comerciante, que completou. "Fica bem mais difícil (com o reajuste), porque o que seria o lucro já era para estar comprando o gás. Eu, que compro dois botijões por mês, fica muito caro para mim, principalmente onde eu vivo, que não tem como vender comida cara, aumentar o preço. Não tem como aumentar o valor porque a população também não tem dinheiro para comprar uma quentinha mais cara". 

Sem alternativas, Maria do Carmo também não descarta desistir do negócio para ter uma renda fixa em um emprego formal. "Eu já estou procurando uma outra alternativa, procurando emprego para ter uma renda fixa, porque vai chegar o momento em que eu não vou conseguir mais. Sem lucro, não dá para alugar um ponto, porque não está gerando dinheiro suficiente", desabafou. 

Já Lilian, conhecida como Lyu, que possui um ponto de venda de quentinhas na Avenida Juracy Magalhães, disse ter sido pega de surpresa com o novo valor do gás. Trabalhando há dois anos na área e tendo o comércio como única fonte de renda, a vendedora afirma que pretende manter o valor das quentinhas, mesmo sabendo que a margem de lucro será menor. Para isso, ela sabe que terá que buscar alternativas para equilibrar a balança, mas admirte que ainda não tem nenhuma ideia. 

"Infelizmente, fomos pegos de surpresa mais uma vez, em pleno início do ano, com esse novo reajuste do gás. Inclusive, em 2021, tivemos esse reajuste, porém não desta maneira [...] O que nos resta, no momento, é tentar equilibrar. Vamos tentar manter nossa qualidade, trabalhar em cima da quantidade, para que a gente possa ganhar mais, ter a margem de lucro. Mas não posso colocar esse valor para os clientes. Infelizmente, vamos ter que continuar com esse valor, não vamos passar para os clientes", explicou Lilian, que disse esperar que o preço se mantenha pelos próximos meses, ao menos. 

"Ainda temos a esperança de que, até o próximo mês, eles consigam manter, porque está fora da nossa realidade. Já temos dois anos empreendo e, infelizmente, precisamos ter calma, porque eu não posso passar esse valor para os clientes de imeadiato, e aí a gente vai seguindo. Caso venha manter esse valor, aí sim eu posso reajustar, colocando um valor simbólico em cima das quentinhas", afirmou. 

Para quem trabalha com a venda de bolos, como Lia Nunes, de 46 anos, o forno à gás é a única alternativa. Trabalhando na área há três anos, a vendedora de bolos, broas de milho e doces disse ao VarelaNet que o reajuste afeta o seu lucro. Apesar da perda, a comerciante diz que pretende manter o o preço como uma tentativa de segurar os clientes mais antigos. Ainda assim, ela disse ter pensado em parar em alguns momentos. 

"Já pensei em parar, mas essa realmente é minha fonte de renda e também amo fazer bolos, doces e broas", disse Lia, que continuou. "Basicamente afetou muito [o valor do gás], porque dessa maneira terei que repassar o reajuste para os meus clientes. Para não perdê-los, prefiro ficar com a margem de lucro menor", finalizou. 

Conhecida como Landulpho Alves, a refinaria foi vendida pela Petrobras em março de 2021 para o grupo Mubadala, que hoje administra o local.

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