Motorista se recusa a levar família com trajes religiosos para terreiro
O homem mandou que eles descessem do carro e arrancou logo em seguida só porque estavam com roupas de santo.

Foto: Reprodução/ TV Globo
Uma câmera de vigilância flagrou o momento que um motorista de aplicativo rejeita levar uma família para um terreiro de candomblé em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no último final de semana. Segundo Tais ao portal G1, o homem mandou que eles descessem do carro e arrancou logo em seguida só porque eles estavam com roupas de santo.
“Um constrangimento, um preconceito nunca vivido. Foi doído. Essa nossa roupa é uma conexão direta com a nossa religião. É um momento de paz, de energia e estar conectado realmente com a nossa religião, com o candomblé, e é isso", comentou Tais.
As duas mulheres e duas crianças, de 8 e 13 anos, não tiveram dúvidas sobre o que motivou o motorista a recusar a corrida. A família acusa o motorista de preconceito religioso.
"Ele não precisou nem falar. O olhar dele já disse tudo. Ele olhou a gente e simplesmente falou que a gente não ia entrar no carro. Não precisava nem dizer mais nada", completou.
Ainda segundo o relato, eles pediram o carro pelo aplicativo e o motorista aceitou a corrida. No entanto, assim como as imagens mostraram, o motorista chegou no local indicado, parou o veículo e começou a falar com Vera. Ela contou que o homem simplesmente disse que não levaria a família, sem dar muitas explicações.
"Quando ele se deparou com a minha nora e minhas duas netas, ele não deixou entrar. (...) 'Não vou levar vocês'. 'Por que o senhor não vai levar?' 'Eu já falei que não vou levar'. E aconteceu o que aconteceu. Ele foi embora. Arrancou com o carro com a minha neta mais nova. Ela sem saber nada, estava vendo a hora de ele carregar a menina junto", disse Vera ao Portal G1.
De acordo com Tais, o preconceito religioso ainda é muito existente na sociedade. Ela disse que teme como as crianças iriam reagir depois de passarem por uma situação como aquela.
"Hoje eu tô bem triste e sinto que vou ficar ainda bastante tempo, apesar de saber que hoje em dia temos leis que amparam a gente. Mas será que vai acontecer de novo? Será que não vai acontecer nunca mais? Não sei", comentou Tais.
Registro na delegacia
Além da recusa do motorista, a família ainda teve que brigar para que ele cancelasse a corrida, visto que foi o motorista que não quis prestar o serviço contratado. De acordo com os relatos, o homem foi grosseiro novamente.
"Ele se exalta porque eu pedi pra ele cancelar o app. A partir desse momento, ele já se torna grosso, fala que não vai cancelar. Se eu quiser, entro em contato com a Uber e peço a eles para cancelar, que eu me vire. Ele me xinga. E realmente, a gente acaba tendo um conflito porque ele falou e eu respondi", disse.
Depois de um certo tempo, a família conseguiu um outro carro para seguir viagem. Contudo, as marcas do preconceito já estavam feitas. Tais decidiu procurar a Polícia Civil para registrar um boletim de ocorrência.
"Eu tentei, desde ontem estou tentando, fazer online, mas eu não consegui. Mas nós vamos presencialmente lá (na delegacia) pra fazer essa ocorrência".
"Espero justiça. Espero que não aconteça com outras pessoas e que ele não faça mais com ninguém o que ele fez com a gente. Constranger, uma situação horrível, né? Que ninguém merece passar por isso", completou Tais.
Tais ainda recordou o seguinte, assim como outras religiões, o candomblé deve ser respeitado.
"É sempre um momento de festa, de agradecer, quando a gente está com essas roupas. E sempre será um momento de pedir respeito. Como todas as religiões, nós estamos aqui simplesmente rezando, pedindo paz, saúde e tudo de bom pra todo mundo", comentou Tais.
Em nota, a Uber afirmou que não tolera qualquer forma de discriminação e se colocou à disposição para colaborar com as investigações.
A empresa informou ainda que desativou temporariamente a conta do motorista durante a apuração do caso e reafirmou seu compromisso em promover o respeito, igualdade e inclusão para todos que usam o aplicativo.