Idosa relata agressões após mais de 50 anos de trabalho escravo na BA
Dona Madalena não recebia salários, era maltratada, sofria racismo e ainda foi vítima de um golpe aplicado pela filha dos patrões no valor de R$ 20 mil
Foto: Reprodução/TV Bahia
A história da doméstica Madalena Santiago da Silva, que viveu 54 dos seus 62 anos em trabalho análogo à escravidão em Lauro de Freitas, na Bahia, viralizou nas redes sociais e sensibilizou milhões de internautas na quinta-feira (28).
Dona Madalena não recebia salários, era maltratada, sofria racismo e ainda foi vítima de um golpe aplicado pela filha dos patrões no valor de R$ 20 mil. A idosa foi resgatada em março do ano passado, durante uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT).
Durante entrevista á TV Bahia, Dona Madalena contou que a filha dos patrões ameaçou jogar água no rosto dela e a tratou como “negra desgraçada”.
“Eu estava sentada na sala, ela passou assim com uma bacia com água e disse que ia jogar na minha cara. Aí eu disse: ‘Você pode jogar, mas não vai ficar por isso’. Aí ela disse: ‘Sua negra desgraçada, vai embora agora’, contou. “Era um sábado, 21h, chovendo e eu não sabia para onde ir”, completou.
Em outro trecho da reportagem, Dona Madalena estava assustada e chorou ao segurar a mão da repórter Adriana Oliveira, que é branca. Ela disse que tinha receio de tocá-la por causa do que a cor da jornalista a remetia. “Fico com receio de pegar na sua mão branca”.
Em seguida, a repórter estendeu as mãos para ela e perguntou o motivo do receio: “Mas por quê? Tem medo de quê?”. Madalena, então, explicou que achava feio a sua pele escura diante da pele clara de Adriana. “Porque ver a sua mão branca. Eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso”.
A repórter tenta acalmar a idosa: “Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é diferente, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você”, completou.
Dona Madalena está recebendo um salário mínimo da ação cautelar do MPT e seguro desemprego. Apesar de ser constatado que a idosa vivia em trabalho análogo à escravidão, ninguém da família que empregou a doméstica está preso.
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