NotíciasCidade“Conheci Irmã Dulce em 1950”, diz freira do Convento Santa Clara, aos 92 anos

“Conheci Irmã Dulce em 1950”, diz freira do Convento Santa Clara, aos 92 anos

Irmã Ressureição leva a vida como freira há mais de 50 anos. Com a missão de acolher pobres e crianças, testemunhou milagres e acompanhou a jornada de Santa Dulce

| Autor: Erika Reis*
“Conheci Irmã Dulce em 1950”, diz freira do Convento Santa Clara, aos 92 anos

Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa

“Eu conheci Irmã Dulce em 1950”, surpreende Irmã Ressureição, logo no início da nossa conversa.

Dona de uma lucidez impressionante, aos 92 anos, a baiana natural do município de São Félix, Maria da Ressureição tem uma história de fé, devoção e dedicação religiosa, das doações que fez até instituições de caridade por onde passou, ao longo dos mais de 50 anos como freira.

“Sou uma franciscana da Congregação Sagrado Coração de Jesus. Para mim, os pobres em primeiro lugar. A Igreja Católica é a portadora de toda essa obra que estou fazendo, e que vou continuar a fazer até o fim da minha missão”, declara uma das últimas fontes primárias viva de Santa Dulce dos Pobres.

 

Divulgação/Assessoria de Imprensa

 

Como começou a jornada religiosa?

Em entrevista ao VarelaNet, Maria da Ressureição, uma das freiras mais antigas do Convento Santa Clara do Desterro, situado em Nazaré, bairro de Salvador, conta que sua força de vontade para ajudar a classe mais vulnerável da população baiana foi o motivo para que ela se tornasse religiosa. 

“Mesmo na cadeira de rodas, até o ano passado [2022], eu ainda ia ao Complexo Hospitalar Irmã Dulce para socorrer os pobres que ficavam desolados na porta. O meu desejo é que as crianças sejam amparadas, tenham casa para morar, comida, roupa e escola. Me preocupo com as crianças desde a infância”, diz Irmã Ressureição. 

Ela e sua irmã Iracy Vaz Lordello, que faleceu aos 85 anos, no dia 1º de dezembro de 2017, após meses de luta contra um câncer no cérebro, acompanhavam Irmã Dulce nas Obras Sociais e testemunhavam milagres da Santa. Ainda adolescentes, as duas se mudaram de São Félix para Salvador com o propósito de ajudar Irmã Dulce a socorrer os pobres e crianças. 

História do galinheiro de Irmã Dulce 

Em 1949, Irmã Dulce decidiu transformar o galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio em um local reservado para doentes que não tinham condições para frequentar instituições privadas de saúde. Depois de pedir autorização à sua superiora, Dulce ocupou o local com os primeiros 70 pacientes. 
Foi assim que a freira, aos poucos, construiu o Hospital Santo Antônio, uma das maiores unidades de saúde pública na Bahia, atualmente, que mantém a tradição de atender pacientes dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS).   

Durante entrevista ao VarelaNet, Irmã Ressureição conta que não apenas foi testemunha dessa história, como também se tornou uma das enfermeiras do hospital.   

“Eu tinha 18 anos. Queria ser enfermeira, mas então Irmã Dulce disse que eu ainda era muito nova.”

Apesar do obstáculo, Maria da Ressureição, já persistente naquela época, resolveu mostrar que era capaz de uma maneira inusitada. 

“Fui ao posto médico e pedi esparadrapo à Irmã Dulce. Menti dizendo que queria emprestado para cortar as unhas. Então, eu fui ao galinheiro, peguei a crista do galo, um peru, coloquei pra cima e colei todos no meu corpo com o esparadrapo. Quando Dulce chegou da janela e gritou: ‘O que é isso?!’. Eu respondi: ‘Fui eu quem fiz. A senhora não quer me colocar para ser enfermeira, então serei a enfermeira das galinhas’”.

“Quatro dias depois, Irmã Dulce me chamou num canto e me entregou a farda de enfermeira para que eu pudesse trabalhar no posto médico, ajudar a cuidar dos pacientes. Fiquei com Irmã Dulce até a data que eu pude ficar. Ela é tudo para mim e fiquei mais alegre ainda quando soube que ela se tornou Santa. Eu já sabia que ela seria Santa!”, completa Irmã Ressureição.

Como vive hoje? 
Irmã Ressureição conheceu o Convento Santa Clara do Desterro em 1950, onde mora até hoje, com a ajuda de Irmã Dulce e Frei Hidelbrando, religioso alemão que foi a primeira pessoa a reconhecer o potencial de Dulce. Após a morte da irmã Iracy em 2017, se mudou para o Desterro oficialmente.  

Maria da Ressureição teve as pernas atrofiadas em 2022 devido à idade avançada, momento em que precisou se restringir a andar de cadeira de rodas. 

Com as dificuldades de locomoção e dependência de uma cuidadora, Irmã Ressureição teve que reduzir suas visitas de caridade e doações. Mesmo assim, ela garante que segue rezando pelos pobres e crianças. 

“Minha melhor experiência até agora foi ajudar as pessoas. Mesmo na cadeira de rodas, quero continuar minha missão redentora, salvadora, de levar as pessoas para Deus, para a Igreja”, declara Maria da Ressureição.      

 

*Sob a supervisão da editora Cris Campos       

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