Tia Má explica como ensinou os filhos a lidar com o racismo no cotidiano
Escritora compartilhou o relato em suas redes sociais

Maíra Azevedo com seu marido e os três filhos do casal |Foto: Reproduçã/Redes sociais
A jornalista e escritora Maíra Azevedo, conhecida como Tia Ma nas redes sociais, compartilhou um vídeo no Instagram em que comenta as estratégias na criação de crianças pretas no Brasil. As declarações foram feitas durante participação no Festival LED – Luz na Educação, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 13 e 14 deste mês.
Ela explicou que, apesar de seus dois filhos serem negros, ainda há uma diferenciação no tratamento que eles recebem por conta do tom de pele. "Eu tenho dois filhos, um é preto retinto e a outra é uma preta mais clara, e mesmo eu sendo mãe dos dois, eu já percebo a diferença", declarou.
A escritora contou também as estratégias que adota no dia a dia para proteger seus filhos. "A rua é um lugar muito hostil pra meu filho. Eu sou aquela mãe que ele vai sair, eu digo, eu vou fazer essa supervisão, eu quero olhar se passou em hidratante, eu quero tentar que ele esteja com uma roupa boa, uma roupa cara. E as pessoas não sabem o quanto que isso é um símbolo para manter meu filho vivo, sabe? E é desesperador".
"Na primeira infância, meu filho entendeu que brincar de policial e ladrão, pra ele talvez não fosse legal. Porque ele morava na periferia, que é onde eu morava, em Plataforma, meu filho brincando de bandido e ladrão, e a polícia parasse e ouvisse que é ladrão ali, meu filho podia tomar um tiro na cara. Então, tem brincadeiras que meu filho nunca pôde brincar, e que tiraram dele esse direito de viver plenamente a infância.", complementou Maíra.
Além disso, a jornalista explicou que existem detalhes durante a criação de crianças negras que não são percebidos por mães brancas. "Uma mãe branca, por mais que ela tenha consciência, ela não vai saber exatamente o que é isso. Ela não vai saber, isso não é uma coisa que ninguém ensina. Você não vai perguntar para o seu filho 'você pegou um documento para sair?', 'você está com dinheiro?'."
Maíra também explicou que costuma conduzir algumas dessas questões de maneira lúdica com os filhos. "Todos os dias, meus filhos, tem que lembrar que eles são pessoas pretas. Minha filha vai pra escola de trança, mas ela sabe que algumas vezes ela não pode estar com cabelo fedendo, que ela não pode estar com cabelo embolado. [...] E assim, a gente consegue levar isso na ludicidade, mas é uma ludicidade que é necessária, mas que é dolorida. Porque é isso aí que mantém meus filhos vivos.", finalizou a escritora.
Maíra escreveu o livro "A menina que não sabia que era bonita", que narra de forma lúdica e a trajetória de uma menina negra no processo de formação da sua autoaceitação e autoestima.