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Cultura do cancelamento: O que é e quais as consequências para sociedade

Como todas as atitudes geram consequências, essas que levam ao cancelamento não ficam de fora, afetando completamente a vida da pessoa

| Autor: Tâmara Andrade

Foto: Reprodução

Provavelmente você já deve ter visto alguém sendo “cancelado” no Instagram ou no Twitter. Essa prática se tornou muito comum na contemporaneidade e tem gerado muitos debates na sociedade. Mas você sabe o que realmente significa “cancelar” alguém e os motivos que podem levar a esse “cancelamento”?

Desde o surgimento das redes sociais até a polarização política, as causas e consequências da cultura do cancelamento são complexas, revelando um cenário preocupante de linchamentos virtuais, injustiças e danos
irreversíveis para aqueles que são alvo desse fenômeno.

De acordo com pesquisa realizada em 2019 pela empresa GlobalWebIndex, no cenário global, o Brasil é o segundo colocado do ranking dos países que mais passam tempo nas redes sociais, chegando a passar aproximadamente três horas e quarenta e cinco minutos por dia conectados, apesar de ainda haver uma parcela da população que não tem acesso à internet.

Esse comportamento não é algo recente, conforme o avanço das tecnologias, o “cancelamento” ganhou bastante força a tal ponto de pautar e moldar comportamentos e posicionamentos de empresas, celebridades e subcelebridades. Ser cancelado se tornou maior medo do século para quem vive das redes sociais. O cancelamento em massa pode
arruinar carreiras, vidas, sonhos, destruir empresas.

É notório que nos dias atuais o maior medo dos famosos é ser cancelado e perder a sua carreira, empresas e seguidores como consequência desse cancelamento. Podemos analisar que essa temática está em evidência devido ao crescimento do uso das mídias sociais. O cancelamento é compreendido como ato de humilhar verbalmente e deferir palavras ofensivas, pode ocorrer também pela divulgação em massa de prints e posts sobre a vítima com teor ofensivo e também com discursos de ódio, podendo trazer danos reais para a vida da vítima. Esse conceito está interligado com a cultura do cancelamento, pois ambos os termos têm a finalidade de banir, atacar e expor o sujeito, gerando então o cancelamento em massa.

Como surgiu a cultura do cancelamento?
O termo apareceu em 2017, com a repercussão do movimento MeToo. Popularizado na forma de uma hashtag nas redes sociais com denúncias de assédio sexual em Hollywood, logo se tornou uma maneira de divulgar abusos sofridos por mulheres no mundo todo.

O cancelamento tal qual é praticado hoje começou a se popularizar em 2019. As redes sociais tiveram um importante papel nesse meio, principalmente o Twitter, uma vez que o conteúdo publicado pode viralizar e alcançar rapidamente um grande número de pessoas. Muitos se acham verdadeiros juízes e se tornam especialistas nos mais diversos assuntos. Na prática, cancelar alguém ou até mesmo uma empresa é uma forma de justiça social, no qual um
indivíduo é excluído de uma posição de influência por ter falado ou cometido algum erro perante o que a sociedade considera como inadequado.

É uma das formas que a sociedade encontrou de apontar os erros dos outros, é extremamente comum acontecer com artistas, pessoas públicas, atletas e influenciadores digitais. As pessoas param de segui-las e deixam de acessar seus conteúdos on-line. Mas se engana quem pensa que apenas celebridades podem ser canceladas.

Os anônimos também sofrem com isso quando fazem ou dizem algo controverso. Os amigos ou até mesmo familiares se afastam e deixam de manter contato. Um grande caso de cancelamento foi o de Karol Conká no Big Brother Brasil (BBB), a rapper foi eliminada do programa com 99,17% de rejeição, um recorde e um prejuízo de imagem acumulado que pode destruir sua carreira. A rapper não apenas perdeu milhões de seguidores, mas também contratos publicitários e um programa que apresentava no canal GNT.

Karol foi acusada diversas vezes de pressão psicológica sobre alguns participantes do programa. O episódio mais grave levou o participante Lucas Penteado a deixar a casa na segunda semana do jogo. O público se uniu com o objetivo de tirar a rapper do reality show, o “cancelamento” da cantora ultrapassou os limites profissionais, e o prejuízo não ficou apenas nos números e cifras. Foram criadas diversas páginas de ódio a Karol, muitas repletas de ofensas racistas. A família da cantora, em especial seu filho menor de idade, sofreu ameaças de morte.

Reprodução/Instagram

A cultura do cancelamento é tóxica para saúde mental

Constantes xingamentos e exposições típicas da cultura do cancelamento podem gerar problemas físicos e principalmente emocionais. Há pessoas que terão marcas pelo resto da vida e dificilmente terão uma rotina normal. O que acontece muitas vezes é uma reclusão, tristeza, ansiedade e até depressão. Nesses casos, será necessário um acompanhamento com médicos e psicólogos que vão estabelecer um melhor caminho e tratamento para cada indivíduo. Para algumas pessoas, o tratamento terá que ser à base de remédios, além de consultas periódicas com psicoterapeutas.

Já em situações extremas, a volta para a rede social pode ser quase impossível. Como o caso do influenciador digital Ramon Vitor, fenômeno no TikTok, com mais de 10 milhões de seguidores. O influencer começou a sofrer uma série de ataques em seu perfil por conta do seu peso. Em um vídeo publicado em seu perfil, Ramon revelou comentários negativos e até mesmo um vídeo criticando a sua aparência. “Eu não achei que teria capacidade de vir falar isso aqui agora”, iniciou. O influenciador ainda afirmou que tirou forças de onde não conseguia para poder falar com os seguidores.

Reprodução/TikTok

Ramon explicou que sempre teve problemas com seu peso e quase desenvolveu bulimia porque chegou a comer e provocar vômito algumas vezes. Além disso, ele revelou que só teve um relacionamento na vida, e isso aconteceu quando emagreceu. Durante a viagem realizada no fim de 2022, Ramon aproveitou para conhecer a gastronomia de outros países. Como tinha muita comida diferente, o influenciador quis experimentar. Nesse período, recebeu muitas críticas falando sobre o peso. “Tinha nojo de mim mesmo quando olhava pra mim”, revelou Ramon.

Em entrevista ao VarelaNet o advogado criminalista Edcleiton Cerqueira, o primeiro passo a ser tomado por quem sofreu esse tipo de conduta é procurar um advogado para que este analise a situação, observando qual era a real intenção do agente e se esse excesso configura um possível crime, como: calúnia, difamação ou injúria, entre outros.

Dessa forma, caso configure algum dos crimes citados, se faz necessário a representação da vítima para que a autoridade policial tome ciência do delito e prossiga com as medidas cabíveis. Infelizmente a conduta de cancelamento e linchamento ainda não estão tipificadas como crime, existe um projeto de lei de número 1873/23 elaborado pela deputada Rogéria Santos que tramita na câmera dos deputados.

Reprodução/Arquivo pessoal

Reprodução/Arquivo Pessoal

O advogado afirma que a criação de leis mais severas não seja o suficiente para a melhora ou redução de ataques como esses, mas sim, um conjunto de políticas públicas, essas com o intuito de conscientizar a sociedade sobre esse tipo de ataque, as consequências desse tipo de conduta podem ocasionar na perda da vida de uma pessoa. Infelizmente muitas pessoas confundem liberdade de expressão nas redes sociais e acabam ultrapassando os limites, infringindo as leis e o mais grave, colocando vidas em risco. Se faz necessário um olhar mais sensível dos entes públicos sobre o assunto.

A pena prevista por lei para quem comete tais crimes são:

Difamação - Detenção de três meses a um ano, e multa;

Calúnia - Detenção de seis meses a dois anos, e multa;

Injúria - Detenção de um a seis meses, ou multa;

Ameaça - Detenção de um a seis meses, ou multa;

Violação de privacidade informático - Detenção de três meses a um ano, e multa.

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