NotíciasBrasilAnalfabetismo funcional atinge 29% dos brasileiros e acende alerta sobre educação

Analfabetismo funcional atinge 29% dos brasileiros e acende alerta sobre educação

Especialistas apontam que o problema exige mudanças profundas na prática pedagógica e em políticas públicas

| Autor: João Victor Soares
Estudante durante prova

Estudante durante prova |Foto: Reprodução

No Brasil, cerca de 29% da população entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional, ou seja, não consegue aplicar de forma eficaz a leitura e a escrita em situações cotidianas. O dado, divulgado pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), preocupa educadores e especialistas por se manter estável desde 2018, revelando uma estagnação alarmante na qualidade da educação brasileira.

A condição de analfabetismo funcional atinge majoritariamente homens e pessoas com mais de 40 anos. Entre os jovens de 15 a 29 anos, a situação também se agravou: enquanto 14% estavam nessa condição em 2018, o índice subiu para 16% em 2024. Segundo os pesquisadores, o impacto da pandemia, que levou ao fechamento das escolas e à suspensão de aulas presenciais, contribuiu diretamente para esse retrocesso.

A professora Ana Cristina Santos destaca o que caracteriza esse tipo de analfabetismo. “Esse tipo de analfabetismo significa a incapacidade de compreender um texto depois de lido. Ou seja, é uma leitura mecânica onde a preocupação em ler as palavras e frases não está associada a interpretação por não haver uma assimilação contextual à medida que as frases são lidas’’.

Ela ainda reforça que a raiz do problema está na base da formação escolar. “O analfabetismo funcional nos põe a refletir sobre a prática pedagógica como fator decisivo, desde as séries iniciais e por toda a Educação Básica. O comprometimento e o amor à profissão docente também são determinantes. Contudo, não bastam apenas essas instâncias, as condições da educação no país se perpetuam por séculos’’, afirma.

Roberto Catelli, coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, uma das entidades responsáveis pelo Inaf , reforça a gravidade da situação. “Não ter domínio da leitura e escrita gera uma série de dificuldades e é uma limitação muito grave”, alerta. Segundo ele, “um resultado melhor só pode ser alcançado com políticas públicas significativas no campo da educação e não só da educação, também na redução das desigualdades e nas condições de vida da população. Porque a gente vê que quando essa população continua nesse lugar, ela permanece numa exclusão que vai se mantendo e se reproduzindo ao longo dos anos”.

O relatório do Inaf evidencia, portanto, a urgência de uma transformação estrutural na educação brasileira, que precisa ir além da sala de aula e enfrentar desigualdades históricas que limitam o pleno desenvolvimento de milhões de brasileiros.

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