13 de Maio: 137 anos de uma luta que só começou
A data, que antes celebrava "o fim" da escravidão no Brasil, foi ressignificada para uma pauta atual

Foto: Reprodução/Revista Revide
Quando pensamos na data 13 de maio, do quê você lembra? Do aniversário do Vitória? Dia de Nossa Senhora de Fátima? Bom, também foi o dia da assinatura da Lei Áurea. Acho que a história todo mundo sabe. Em 1888, a princesa Isabel assinou o projeto que aboliu a escravidão no Brasil. Mas também, 13 de maio é o Dia Nacional da Denúncia ao Racismo, uma data que, apesar de sua importância, passa despercebida no calendário oficial e popular do país.
A proposta de tornar o dia um marco de denúncia surgiu como contraponto à narrativa de “redenção” da Princesa Isabel. Ela ignora que a abolição foi fruto da resistência ativa dos povos negros escravizados - quilombos, revoltas, fugas - e que a liberdade oferecida não trouxe reparação, inclusão nem equidade. A data foi institucionalizada por movimentos negros para lembrar que o racismo estrutural segue sendo uma chaga aberta no Brasil.
“Para ser bem honesta, eu nem sabia que existia esse dia de denúncia ao racismo”, diz Lara Chaves, 25 anos, moradora de Salvador. “A gente tem a maioria da população negra, com um percentual de pessoas pretas muito elevado, e isso é louco, porque a gente é sempre ensinado a ver como se o Brasil fosse de maioria branca.” O descompasso entre a realidade populacional e a representatividade é uma das muitas contradições que o 13 de maio escancara.
De fato, segundo dados do IBGE, mais de 56% da população brasileira se declara negra (pretos e pardos). No entanto, o racismo ainda se manifesta de forma direta e indireta nos índices de violência, acesso à educação, saúde, renda e representação política. O Atlas da Violência 2023 revelou que 77% das vítimas de homicídio no país são negras. Entre os mais pobres, 75% são pessoas negras. As disparidades raciais seguem gritantes.
Rafael Carmo, 21 anos, acredita que a pouca visibilidade da data se deve à falta de iniciativa institucional. “Seria importante o próprio governo federal participar disso, trazer campanhas nos canais públicos. A abolição oficial é mais um passo de uma luta que continuou por muitos anos. Ela não terminou ali, e até hoje a gente sente os efeitos dela.” Para ele, a data deveria ser usada para fomentar consciência sobre o racismo ainda vigente no país.
Essa ressignificação do 13 de maio também carrega um gesto de descolonização da história oficial, como aponta Victor Hugo dos Santos, 24 anos. “Tem que ter essa ideia de desmitificar essas nuances e mostrar o que é realmente importante.” Para ele, o combate ao racismo exige mais do que apenas uma data simbólica: é preciso ação contínua e presença cotidiana nas mídias, na educação e nas políticas públicas. “Seria interessante trazer isso (divulgação) para todo o Brasil.”
E por que, afinal, o 13 de maio não tem o mesmo apelo que o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra? A resposta pode estar tanto no seu caráter institucional quanto na ausência de um movimento cultural e econômico ao redor da data.
“O novembro negro é muito rentável hoje em dia, você consegue fazer muitos eventos que dão muito dinheiro”, afirma Lara. “Eu acho que a gente consegue essas ações antirracistas através desse viés do lucro no capitalismo. Mas o primeiro passo ainda é a educação. É ensinar as pessoas a se reconhecerem, gostarem de se olhar no espelho também.” Para ela, é fundamental que o debate racial não seja restrito a grupos politizados, mas que alcance a população mais ampla, principalmente as camadas negras da classe C, que muitas vezes não têm acesso à educação racial crítica.
Lara também faz um recorte geográfico importante. “Salvador é diferente. O branco é minoria em muitos espaços. É um lugar único, apesar de todos os problemas. A cidade respira raízes africanas e tem uma energia de acolhimento. Mas ainda enfrentamos as dores do racismo.” O contraste entre o cotidiano da capital baiana e o restante do Brasil revela o quanto o racismo se expressa de formas diversas no território nacional.
O 13 de maio, portanto, é mais que uma lembrança histórica: é uma oportunidade de denúncia, conscientização e ressignificação da luta antirracista no Brasil. Mas para isso, precisa deixar de ser um dia ignorado. A abolição de 1888 pode ter tirado correntes dos corpos, mas não rompeu as estruturas que seguem aprisionando vidas negras até hoje.